RIO DE JANEIRO - Mais um aniversário do AI-5, na última semana, e não vi nem li muitas reportagens sobre aquele 13 de dezembro de 1968, que mudou a vida nacional e a vida de muita gente, inclusive a minha, que já estava na pior por conta de outra data nefasta, o 1º de abril de 1964.
Acredito que a mídia esteja guardando munição para o próximo ano, que será uma data redonda. Não haverá lugar para nenhum tipo de revisão histórica, há um consenso indestrutível sobre o ato em si e sobre o período totalitário que se seguiu. Em 64, grandes parcelas da opinião pública nacional foram a favor do golpe -na realidade, a maioria o aprovou até mesmo entusiasticamente. Basta uma olhada nos jornais e em alguns livros daquela época.
Em 68, o regime militar, embora sem ainda ter atingido o seu clímax, já precisava apelar cada vez mais para a força e o arbítrio a fim de impor o autoritarismo radical que duraria mais de 20 anos.
Mesmo assim, são arrolados alguns índices de crescimento daquele período, e em diversos setores há uma discreta nostalgia pelo pacote totalitário que esmagou a liberdade pública e a liberdade de cada um.
Como todos os sobreviventes daquele 13 de dezembro, guardo alguns flashes daquela noite. Foram me buscar no Leme, onde então morava. Um major me comunicou que o general comandante da região militar queria falar comigo. Disse que nada tinha a falar com aquela autoridade e duvidava de que o general tivesse realmente algum assunto para conversar comigo. Recebi então o conselho para não criar caso.
Além do conselho, um soldado que fazia parte da escolta apontou-me a sua arma. Com pequenas variantes, o mesmo aconteceu com milhares de brasileiros. Coisas piores ainda viriam nos dias seguintes.
Folha de S. Paulo (SP) 18/12/2007