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Uma crônica de 1994

 

Em janeiro de 1994, o sindicalista Cruz Filho, que trabalhava na tesouraria da CUT, foi assassinado por um companheiro de partido. No dia 13 daquele mês e ano, escrevi, neste mesmo espaço, uma crônica que considero atual.


"O PT está em crise. Não por causa da morte de um sindicalista (...) nem mesmo pelas acusações que começam a pipocar de todos os lados contra a sacralidade do partido.


A frente ampla de oprimidos e intelectuais que deu sustentação e ampliação ao PT está se fragmentando. O PT sabe que sua hora é agora, na sucessão de 95. Se perder a vez, perderá o bonde. Não dá para amarrar tantas discordâncias de estratégias e táticas tamanhas são as desavenças ideológicas e pessoais.


As cabeças mais responsáveis do partido já sofreram a poluição burguesa do poder e do prestigio. Estão em outra. As bases continuam querendo bagunçar o coreto, mas esbarram nas colunas que sustentam e conservam o edifício. Não me refiro à possibilidade de novos escândalos ou crimes -não será por aí que o PT perderá o charme que o tornou importante nos lances da recente história do povo brasileiro.


A bola da vez será alguma coisa que se vem formando no inconsciente das classes oprimidas, dos grupos marginalizados, que incluem vegetarianos, naturalistas, aidéticos, ecólogos e chatólogos de diversos tamanhos e feitios, sem esquecer os intelectuais, que estão sempre esperando uma carona para darem a impressão de que seguem o "vento" da história.


De tal forma o PT cresceu que foi obrigado a organizar-se. A organização gerou a nomenclatura, a burocracia partidária. Tal como o velho Partidão, que gozou e sofreu das mesmas circunstâncias e se esfacelou, o PT, com Lula ou sem Lula no poder, já não será o mesmo."


O crime na tesouraria do PT, em 1994, foi devidamente abafado, a mídia em peso e as massas achavam que o partido era a salvação da pátria, salvação que só seria possível com a eleição de Lula naquele ano ou em qualquer outro.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 02/07/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 02/07/2005