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Um povo mestiço

 

Temos um país privilegiado. E os brasileiros? Talvez a fusão das três valorosas, mas diferentes raças (o branco, o índio e o negro) responsáveis pela etnia brasileira justifique a grande diversidade existente entre nós. Com certeza somos um povo mestiço, como afirmou o escritor Sílvio Romero.


A história do Brasil é relacionada a notáveis acontecimentos em que as guerras civis e sangrentas foram proporcionalmente poucas, deixando, entretanto, feitos heróicos, em figuras que atualmente são pouco reconhecidas e referendadas, como Tiradentes, Caxias, Ana Nery, entre outros tantos.


Os brasileiros sentem a falta de uma memória. Somos um povo quase sem memória. As aulas de História do Brasil, em nossas escolas, correm ao sabor de textos comprometidos com o proselitismo, o que certamente não é aconselhável. E a presença do negro é secundarizada, como se fossem cidadãos de outra categoria. No Brasil não pode prosperar essa visão. Não aprendemos a cultivá-la e muito menos devemos repassá-la às novas gerações.


Para muitos de nós o termo brasilidade é visto apenas como a qualidade de quem é brasileiro, quase ou apenas um adjetivo pátrio, pois o sentimento de afinidade, de amor pelo Brasil (brasileirismo/brasilianismo), conceito mais amplo desta palavra, é ignorado pela maioria.


Acreditamos que no lar e na escola, onde de fato a educação deve acontecer, são os locais indicados ao apropriado desenvolvimento desse sentimento entre os brasileiros, criando cidadãos participativos, colaboradores e críticos, portanto possíveis responsáveis por uma sociedade melhor.


Há meio século, o que não é muito tempo assim, era costume nas escolas públicas e particulares os alunos formarem nos pátios, antes de entrar nas salas de aula, para cantar um dos nosso principais hinos: Nacional, Bandeira, Independência, República. Algumas até iam além, entoando o belíssimo Hino do Expedicionário, magnífica peça poética de Guilherme de Almeida, que cantava o clássico “por mais terras que eu percorra/não permita Deus que eu morra/sem que volte para lá”.


Para rimar mais adiante com “a vitória que virá”, menos pela alegria de estar numa guerra cruel, mas pela satisfação de contribuir para o fim do nazismo, o que nos custou cerca de 400 mortos. Nossos soldados descansam no Monumento aos Mortos da II Guerra Mundial, no Rio, numa justa homenagem ao seu sacrifício. Os túmulos com os respectivos nomes são visitados periodicamente por escolares, com explicações prévias dos professores a respeito do que representou a luta na Itália, nos idos da década de 40.


Lembro tudo isso para protestar contra o que falsos educadores chamam de “modernidade”. Não sabem o que é o verdadeiro significado da palavra. Estamos vivendo novos tempos de prometidas mudanças. Nada mais necessário, num país de grandes injustiças sociais. Temos 38 milhões de brasileiros vivendo (vivendo?) abaixo da linha da pobreza, em miséria absoluta. Sabe-se que a solução para isso está numa política de pleno emprego e na prioridade que se deve dar à educação, não a dos discursos, mas a efetiva, das ações concretas.


Citar a disciplina de Moral e Cívica, retirada dos currículos escolares por determinação legal, passou a ser um “pecado capital”, que os professores, coordenadores e orientadores das escolas brasileiras não tiveram coragem de cometer. Admitimos que houve excessos, nas antigas aulas de Moral e Civismo que eram aproveitadas por professores inescrupulosos ou despreparados para incutir em seus alunos idéias, inegavelmente, indesejáveis.


Hoje, porém, os tempos são outros, a democracia existe entre nós sendo vivenciada no dia-a-dia de todos. Sentimos a necessidade da recolocação do assunto nos currículos plenos dos ensinos fundamental e médio das escolas do País.


Os alunos, longe de se sentirem envergonhados, vão se orgulhar dessa decisão patriótica.


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 29/03/2004

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, 29/03/2004