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Um novo feminismo

 

Tudo indica que as mulheres estão fartas da desigualdade e da violência física ou verbal que ainda ronda seus passos

Por solicitação do movimento #AgoraÉQueSãoElas, contra o projeto de lei que dificulta o aborto em caso de estupro, cedo hoje, com prazer, o espaço à professora Heloisa Buarque de Hollanda, personagem ícone da revolução comportamental dos Anos Rebeldes. Quase 50 anos depois de lutar contra tabus e preconceitos, Helô, a “musa de 68”, fala do novo feminismo e participa da atual campanha contra o retrocesso arrogante em plena democracia:

Vai que Eduardo Cunha esteja fazendo bem ao feminismo. O fato é que a truculência conservadora e o cinismo inabalável do presidente da Câmara, ao declarar que qualquer projeto sobre o aborto teria que passar sobre seu cadáver, ao lado de declarações não menos truculentas sobre a homoafetividade, levaram centenas de mulheres, homens e crianças à rua nestes últimos dias no Rio, São Paulo, Brasília, Salvador e Recife — sem falar na performance da atriz Luciana Pedroso que, nua em pelo, desfilou em frente à Câmara rejeitando o PL 5.069/13 e os estereótipos da beleza feminina. A palavra de ordem “tire seus rosários dos meus óvarios”, repetida e pichada pelas “Mulheres do Cunha”, quase vira meme semana passada. Ainda na esteira do clima intempestivo que vem sendo criado pelo deputado, o último Enem abriu espaço para a discussão sobre a discriminação contra a mulher.

Na sequência, depoimentos assolaram as redes com a hashtag #primeiroassedio. Tudo indica que as mulheres estão fartas da desigualdade e da violência física ou verbal que ainda rondam seus passos. O novo feminismo está no sangue, não mais na cabeça. É alegre, agressivo e visceral. Recebi um e-mail de minha amiga Marcia Tiburi dizendo: “Sabe o que eu inventei? O Partido Feminista Democrático”, baseado na evidência de que o modelo político tradicional esgotou sua potência. Dizia o convite para a primeira reunião na sede da OAB: “Está na hora de uma política dialógica, criativa e participativa..”. Novidade à vista.

Na universidade, um dos temas top para pesquisas e teses é a princesamania entre crianças de 0 a 10 (essa é uma luta feminista que, com a vivência que tenho do caso, acho das mais difíceis de serem vencidas). Já a “Capitolina”, (a nova Capitu customizada) chega como uma publicação jovem on-line, meio diário, meio facebook, mas cheia de opiniões, desenhos e tags conscientes dos direitos femininos. Na edição com o título “Respeita as mina!”as adolescentes botaram pra quebrar: “Sério, imagino que todas estamos exaustas de sofrer a opressão dia a dia, do jeito que só nós sabemos como é, e chegar o 8 de março para sermos ‘cultuadas’ da pior maneira possível”. Descobrindo que 98,5% dos termos são desconhecidos de suas amigas, a editoria de “Capitolina” publicou um glossário sensacional para que todas possam se engajar, com mais conhecimento de causa. Sucesso teen na internet.

E, para terminar, as meninas estão mais lindas do que nunca. Exemplo disso são minhas quatro netas Dora, Catarina, Julinha e Violeta, com a permissão de Zu e Alice.

O Globo, 07/11/2015