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Um mistério na Redação

 

Até hoje não entendi. Vou contar o caso porque tenho pelo menos três testemunhas vivas e em atividade profissional para confirmar o que se passou naquele 14 de março de 1985, na Redação da "Manchete": Roberto Muggiati, José Esmeraldo Gonçalves e J.A. de Barros.

Íamos lançar uma nova revista para substituir a "Fatos&Fotos". Uma equipe já estava em Brasília para cobrir a posse de Tancredo Neves na Presidência da República. O Mauro Salles, na véspera, me transmitira o convite para almoçar com Tancredo e mais cinco jornalistas. Respondi que não podia, precisava editar o primeiro número da nova revista.

Pouco depois do almoço, mais ou menos às 15h, recebi um telefonema, voz de mulher. Falando baixinho, ela me informou que haveria um imprevisto no dia seguinte. Tancredo não tomaria posse. Não podia entrar em detalhes.

Não tive outras informações, mas desconfiei que o aviso recebido era de pessoa comprometida pessoalmente com Tancredo. Chamei o Esmeraldo e o Barros, respectivamente, diretor de Redação e diretor de arte. Disse que ia mudar a pauta do nosso primeiro número, porque Tancredo não tomaria posse. Avisei também ao Mugiatti que estava fechando o número especial da "Manchete" com pauta parecida.

Dez minutos depois, Adolpho Bloch, que já estava em Brasília com o Alexandre Garcia e uma numerosa equipe, telefonou. Exaltado, me chamou de maluco, onde já se vira? Tudo estava pronto para a posse. Passou o telefone para o Alexandre, que chefiava nossa sucursal.

Ele garantiu que tudo estava tranquilo, não haveria nenhum golpe contra a posse de Tancredo, que eu estava, como sempre, mal informado.

Meia-noite, mais ou menos, Adolpho me ligou: que desse a capa com o Sarney.

Folha de São Paulo, 3/7/2012