RIO DE JANEIRO - Para falar a verdade, nem sei a que partido o vice-presidente José Alencar pertence. Apesar de possuir uma biografia de sucesso empresarial, só tomei conhecimento de Sua Excelência quando compôs chapa com Lula no primeiro mandato. Apreciei algumas de suas declarações, mas não cheguei ao ponto de admirá-lo.
Nos últimos anos, sim, passei não apenas à admiração, mas ao carinho. Embora não o conheça pessoalmente, estou torcendo para que tudo dê certo no seu tratamento -e desde já todos devemos a ele um exemplo de como enfrentar o maior desafio que o tempo e o destino colocam à frente de todos nós.
No passado, tivemos o governador Mário Covas, também vitimado por uma grave doença e que, mesmo em seu estado terminal, continuou trabalhando. Era um temperamento sangüíneo, e até os últimos momentos foi fiel ao seu estilo e às suas idéias.
José Alencar é mineiro, mineiro de Ubá, terra de Ary Barroso, do Antônio Olinto, do Ferdy Carneiro e de outros amigos meus. Não conheço em detalhes sua carreira política, mas, como vice-presidente, tem dado o recado da discrição que o cargo exige. Mas não foi por aí que passei a gostar dele.
É impressionante como mantém seu sorriso, como se apresenta a cada saída dos hospitais onde se interna. Os especialistas são unânimes em ressaltar a importância do alto astral no tratamento de uma moléstia que costuma derrubar física e moralmente os seus portadores.
Para esses, sobretudo, o comportamento de José Alencar é um dos melhores exemplos de como devem se portar os atingidos pela doença. Ele continua na ativa, não sentou no meio-fio para chorar o leite derramado. É um vice-presidente. Mas não é um vice-homem. É um homem em pleno exercício de sua condição humana.
Folha de S. Paulo (SP) 24/1/2008