Antônio Augusto Moniz Vianna, ou mais simplesmente Moniz Vianna, foi mestre, guru e, como hoje se diz, ícone de toda uma geração, não apenas em matéria de cinema mas de cultura em geral.
Médico e baiano, durante anos foi o crítico de cinema mais influente e antológico, dividindo o pódio com Paulo Emílio, aí em São Paulo. Com a saída de Luiz Alberto Bahia, foi redator-chefe do "Correio da Manhã", promoveu dois festivais internacionais de cinema aqui no Rio, trazendo Fritz Lang, Vincent Minelli, Roman Polanski, Marco Bellochio e outros cobras para os eventos.
Após resistências pessoais, acaba de lançar "Um Filme por Dia", coletânea de artigos organizada por Ruy Castro, um de seus dois maiores devotos - o outro sou eu.
Entrevistou os cineastas que adorava, René Clair e John Ford, sendo que este último era o seu "nec plus ultra" em matéria de cinema. Também adorava Murnau, Carné, Fellini e Buñuel. E era adorado por um grupo de jovens que viviam em torno dele, que se realizariam no cinema ou na crítica: Maurício Gomes Leite, Sergio Augusto, Walter Lima Júnior, José Lino Grünewald, Paulo Perdigão, Jorge Illeli, Walter Hugo Khouri, Ely Azeredo, Valério Andrade, José Sanz, Décio Vieira Ottoni, Salvyano Cavalcanti de Paiva - um batalhão.
Escreve bem. Gosto de citar o final do artigo sobre "Sete Mulheres", talvez o único filme de Ford de que ele não gostou muito. Após as restrições feitas, Moniz descreve as últimas cenas daquele filme, com os cortes clássicos do seu mestre preferido. E termina com uma tirada de gênio: "A câmara se afasta. Não importa. Atrás dela está John Ford".
A única mancada que deu foi, com a cumplicidade de Fuad Attala, ter promovido a cronista um obscuro redator daquele jornal, um cara que até hoje entope a paciência e atenta contra o bom gosto dos leitores aqui na Folha. Ninguém é perfeito.
Folha de São Paulo (São Paulo) 20/11/2004