Estamos perto das eleições presidenciáveis de 2002. Quatro candidatos disputam a honra de dirigir o País, ainda às voltas com problemas de inquestionável importância, como a segurança, o modelo econômico, a saúde, os transportes e - sobretudo - a educação.
Caminhamos para a universalização do atendimento ao alunado de ensino fundamental e o ensino médio cresceu em progressão geométrica. O ensino superior, também, principalmente na oferta de cursos, mas aí já se pode criticar a monumental falta de qualidade da maioria deles.
O ensino público foi maltratado, em várias instâncias, mas teve alguns ganhos, como a criação do Fundef e o sistema de avaliação em todos os níveis. Precisa ser aperfeiçoado, é claro, mas passou a existir. Paternalismos do tipo bolsa-escola são discutíveis, até porque o seu alcance é limitado, mas houve farta distribuição de livros didáticos para alunos carentes. A idéia é louvável, faltando apenas democratizar a seleção feita por especialistas das universidades públicas federais. Com uma pergunta objetiva: seriam eles os melhores avaliadores do que deve ser oferecido às crianças do ensino fundamental? Ou isso deve ser feito por professores do próprio grau que vai utilizar os livros? Além de outra questão: por que concentrar a escolha em meia dúzia de editoras?
Ficou o desejo de que a educação à distância, hoje uma tênue aplicação, seja modalidade efetivamente reconhecida, colaborando, inclusive, como aconteceu em tantos países desenvolvidos, para a qualificação inadiável dos mestres que se encarregarão de tirar nossas crianças dessa educação precária, vítimas inocentes de ações demagógicas evidentes. Um bom produto político, mas um mau resultado em termos práticos para o futuro de 60 milhões de crianças e jovens brasileiros, que estão hoje na escola, na esperança de melhorar a sua qualidade de vida.
Mesmo assim, nos diversos pronunciamentos que têm sido feitos, os candidatos, como não poderia deixar de ser, concordam em numerosos aspectos. Todos defendem a melhoria da qualidade do ensino, a universalização da educação básica e expansão da educação infantil, sem dúvida, os pilares mais importantes para estruturação da proposta de governo do futuro presidente brasileiro.
No ensino fundamental, obrigatoriedade escolar, determinada por lei, Lula pretende acabar com o analfabetismo (como?) e fomentar os programas de bolsa-escola, criando, inclusive, a bolsa-escola rural; o candidato Ciro Gomes defende novo ensino médio e aumento do número de anos que a criança passa na escola; José Serra tem falado sobre a elevação da escolaridade e qualificação dos trabalhadores, enquanto Garotinho quer reforçar a merenda escolar e fala em educação à distância.
Nesta modalidade de ensino, dois candidatos, divergem num aspecto importante: enquanto Ciro é a favor da municipalização do ensino fundamental, Lula quer reverter o processo de municipalização que, na opinião dele, é predatório no que se refere à escola pública.
Todos os candidatos discutem educação e expõem os seus planos para essa área prioritária, mas sem a desejada ênfase esperada pelos educadores brasileiros. Será que eles tiveram a preocupação de ouvir professores de todos os níveis, aqueles que conhecem o dia-a-dia de uma sala de aula, para depois elaborar seus planos de Governo no que tange à educação nacional? Sinceramente, esperamos que sim.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 24/09/2002