Está coberto de razão o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, qualificando de lamentável e, mesmo, triste, o assassínio da missionária Dorothy Stang, em trabalho no Amapá.
Enredo típico de Garcia Marques, a missionária sabia que seria assassinada, pois falou com os assassinos de aluguel, com os quais rezou na véspera de ser morta a tiros, covardemente, um dia antes de executarem o trabalho para o qual haviam sido contratados, num lugar escolhido por estes profissionais do crime.
Ainda ontem falávamos que o Brasil é terra de missão. Glosando as palavras do eminente cardeal Hummes, para o qual o Brasil é terra de missão, para se ajustar aos novos tempos que anunciam e se abrem cada vez mais. A missionária escolheu a Amazônia para executar sua obra, fazer o seu trabalho e ganhar almas para Deus e para o desenvolvimento de que tanto carece o Brasil. Apenas não contava, como desarmada, mulher apostólica do bem, que nada fazia de mal, não seria molestada.
Evidentemente, com a amplitude da mídia em nossos dias, o assassinato da pobre Dorothy foi transmitido para o mundo inteiro, com os comentários que se justificam contra a pacífica trabalhadora pelo bem dos humildes, pela dedicação aos menos favorecidos, todos considerados inimigos do fazendeiro ou fazendeiros, que se juntaram, ou ficou um só responsável pelo horrendo crime, praticado contra uma pobre mulher, que renunciou à sua mocidade, aos benefícios da civilização americana, para salvar almas.
Tudo isso é sumamente penoso comentar, pois chega até nós atrelado a um dos autores de editoriais e comentários, a cada um dos leitores, a infâmia do ato que consistiu em abater uma frágil mulher, pregadora da obra de Deus, quando se articulava na sombra das varandas das fazendas do Pará a oportunidade de abater a missionária, como se ela tivesse poderes para enfrentar os fazendeiros poderosos e bem armados, além de possuírem dinheiro para pagar assassinos. É a realidade, a triste realidade que nos atormenta.
Diário do Comércio (São Paulo) 21/02/2005