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Um ano de incertezas

 

O ano de 2010 foi marcado pela falta de segurança na economia mundial, decorrente da crise deslanchada em 2008, que ainda se faz sentir. Em certos países seus efeitos continuam se agravando, em outros ela dá sinais de arrefecimento. O certo é que se fala em economia globalizada, que existe, sim, mas não é igual em todos os espaços econômicos.

Nestes ou nos países que os compõem as consequências não são idênticas.
A economia mundial apresenta um quadro de incertezas e nervosismo, não havendo nenhuma avaliação segura sobre o que pode acontecer.

A crise começou nos Estados Unidos, com bolhas na área imobiliária, se agravou nos seus derivativos, contaminou os bancos, e depois, numa onda de falta de liquidez, atingiu o mundo inteiro, em menor ou maior grau, conforme o tamanho das economias e dos bancos afetados.

Ainda hoje a crise grega perdura e se reflete em violentos confrontos entre a população, que recusa os remédios amargos, e o governo. A Irlanda, Itália, Portugal e Espanha estão na corda bamba e mesmo os países de economia mais forte têm que tomar medidas impopulares.

Numa tentativa de salvar o euro, a União Europeia criou um novo fundo para intervir nos sistemas econômicos, socorrendo os casos de maior gravidade.

Evidentemente que a crise real abalou as estruturas teóricas que vinham alimentando a economia mundial. Havia um sentimento esmagador de certeza, até dois anos atrás, de que o Consenso de Washington estava vitorioso — suas diretrizes comandavam cada vez mais as economias dos países — e que o mercado era o único caminho para todos os problemas econômicos.

Através de seus mecanismos seriam saneados os desajustes do sistema. Mas 2008 mostrou que não era bem assim — e Keynes, que estava esquecido e julgado enterrado, ressurgiu e voltou ao centro do debate, mostrando que não estava tão morto.

A esquerda passou a viver contida euforia na sensação de que iniciava sua recuperação, enquanto agora se questionam abertamente as teorias de Milton Friedman. Parece que o capitalismo e o intervencionismo se reencontraram, mostrando que não são incompatíveis.

O capitalismo regulado passou a ser o instrumento a que as nações estão recorrendo para enfrentar mais uma crise. Reabre-se a discussão sobre o destino dos Welfare States e a segurança que deram à Europa e aos EUA a partir dos anos 50 do século passado.

A grande novidade nestes tempos é a incorporação da China neste processo. O espaço econômico asiático surgiu na década de 50 e se restringia basicamente ao Japão, que nos anos 60 voltava aos mesmos níveis de riqueza e participação que registrara na economia mundial em 1938. Depois surgiram Coreia do Sul, Hong Kong, Singapura e Taiwan, os "tigres asiáticos".

Agora chegaram os anos dourados da China, que assume o seu espaço natural de liderança. Vamos ver como ela vai se mover e qual seu papel na superação da crise. Seu dinamismo, sua capacidade de adaptação às crises são a esperança que se acalenta da uma volta à normalidade.

Brasil Econômico, 29/12/2010