Não é nada, não é nada, é quase um tudo. Tivemos no ano passado o centenário de Machado de Assis, que foi comemorado 'ad nauseam'. Mesmo assim muita coisa ficou sem ser dita a respeito de um homem que foi e continua sendo um caso no panorama cultural brasileiro.
Neste ano, temos Euclides da Cunha, outro caso que dá o que pensar sobre a importância de personalidades dentro e acima de qualquer história. Embrião de Guimarães Rosa e Glauber Rocha, marcado pela tragédia e pelo quixotismo, que o fez quebrar a espada de oficial numa cerimônia militar, Euclides está sendo pensado e repensado como um dos pais fundadores de nossa civilização.
Finalmente, temos Joaquim Nabuco, cujo centenário, no ano que vem, já está sendo planejado pela Academia Brasileira de Letras, que, por sinal, lhe deve muito de sua fundação. Curiosamente, os três gigantes de nossa paisagem cultural estiveram juntos na mesma academia. Foram além de simples escritores, interessados na forma e no encanto das palavras. Pensaram grande sobre a condição humana, sobre o homem brasileiro, sobre a nação da qual permanecem como intérpretes principais.
Machado, Euclides e Nabuco são momentos da história do Brasil, cada qual em seu setor, mas juntos pelo amor ao ofício do pensamento e das letras. Neste particular, Euclides foi o mais exagerado, subordinando muitas vezes o pensamento à perfeição da forma. Ao publicar a segunda edição de Os Sertões, ele apertou ao máximo o limite de sua linguagem. Não mexeu no conteúdo, mexeu apenas na forma.
Hoje, como é natural em tempos de dúvida e de incertezas, quando cada acadêmico da ABL reavalia a sua presença naquela instituição, se absolve em foro íntimo por estar na casa que foi de Machado, Euclides e Nabuco.
Jornal do Commercio (RJ), 18/8/2009