Evidentemente, com minha profissão de fé liberal, reiteradamente proferida e escrita, não vou fazer a apologia de Stalin. O tirano está morto e bem morto. Mas, não tenho dúvida que os russos que perderam seus filhos, os parentes dos que morreram sentem saudades de Stalin, pois uma tragédia das dimensões que abalaram a paz russa e repercutiram no mundo inteiro, que a lamentou, gostariam que Stalin estivesse vivo e no lugar de sempre. Não teria havido tragédia.
São fatos como esse que discordam de liberais como eu, como Meira Penna e como tantos outros que cultivam a ciência e sua aplicação na vida do povo, em alguns países, que gozam dessa felicidade. São, também, fatos como esse que levam milhares de entrevistados das organizações de opinião pública a defenderem os governos fortes, as ditaduras, sejam elas quais forem, mas fortes, suficientemente, para impedirem tragédias como essa da Rússia, que ninguém vai ser punido por ela.
Sei, todos sabem, que o mundo inteiro está em crise. Escrevi e uma editora publicou há poucos meses um ensaio sobre a agonia da civilização. Enquanto a ciência desenvolve-se prodigiosamente, a civilização se entibia e entra, mesmo, em agonia, no sentido de luta para sobreviver. É um contrate chocante, desses de nos amedrontar, pois seus desdobramentos vão pondo nas mãos dos malfeitores, como ocorreu na Rússia, os instrumentos de destruição incontroláveis. É aonde chegamos.
Felizmente, aqui estamos apenas em clima eleitoral, os candidatos disputando a preferência dos eleitores, que constituem o mistério sondado pelos Ibopes e outras organizações similares e, esses, mesmo sem segurança, pois o voto é secreto e o entrevistado pode fazer uma afirmação hoje e mudar amanhã para outro candidato. Daí ter razão Jânio Quadros: só se sabe do resultado de uma eleição quando o juiz assina a ata e proclama o resultado. É o que esperamos ver no próximo dia 3 de outubro, com os milhares de candidatos.
Diário do Comércio (São Paulo) 15/09/2004
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