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Torcendo a favor

 

Risco zero não existe, e nem é preciso Olimpíada para uma cidade ser alvo de atentados, basta lembrar os exemplos recentes de Paris, Nice, EUA, Japão ou Alemanha, que acaba de sofrer o quarto ataque em dez dias. Mas os esforços e as precauções são importantes para que o risco chegue o mais perto possível de zero, e para evitar que se concretize uma das estratégias do terrorismo, que é criar a expectativa de pânico, é fazer com que o medo já se instale antes, de véspera. Daí se justificar o gigantesco esquema de segurança que começou a funcionar domingo, a maior operação montada no Brasil, com 88 mil agentes das forças nacional, estadual e municipal, sem contar a inédita cooperação internacional de 250 policiais de 55 países. Mais de 20 instituições vão trabalhar juntas, incluindo Forças de Segurança, Forças Armadas, Defesa Civil, trânsito e concessionárias de serviço público. Sabe-se que nem isso garante 100% de segurança, mas o Ministério da Defesa acredita na experiência adquirida por ocasião da Copa das Confederações, da visita do Papa Francisco ao Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude, em 2013, e a Copa do Mundo, em 2014. Acha que esse know-how, mesmo não sendo suficiente para garantir a paz, pois o terror é sempre imprevisível, é importante para afastar o clima de baixo astral e para tornar mais difícil, senão impossível, as ações criminosas. 

Sei que há gente torcendo contra. São os espíritos de porco ou os que, digamos, rezam para que os Jogos Olímpicos não deem certo, e eles possam ter razão e declarar depois: “Eu não disse?!” Fazem lembrar aquele jornal do interior que, quando estourou a Segunda Guerra Mundial, publicou um editorial dirigido a Roosevelt, Churchill e De Gaulle, cobrando não ter sido ouvido: “Bem que avisamos!” Repito que preferiria ver esses gastos e essa mobilização toda investidos em outras prioridades, que são tantas. Mas já que é tarde para isso, estou torcendo a favor do sucesso da Olimpíada. Deixo para depois a cobrança do legado, a exigência de emprego para os desempregados das obras, a melhoria dos hospitais e escolas. Agora, com pieguice e tudo, sonho em ver essa cidade de braços abertos como o Cristo, e sua população vibrando, alegre, curtindo os Jogos debaixo de um sol gostoso de inverno. Por isso, quando no fim de semana vi na televisão turistas estrangeiros no calçadão da orla despreocupados, elogiando o policiamento e revelando que estavam andando pela cidade sem sentir medo, bati na madeira e disse, como antigo coroinha e sem medo de patrulhamento: que a paz esteja conosco, seja o que Deus quiser.

O Globo, 27/07/2016