Já cometi loucuras por aí, tive delírios reprováveis, mas jamais cometeria a demência de lançar um candidato à sucessão de João Paulo 2º. Pelo contrário: acompanhei da Sala de Stampa, ali no início da Via della Conciliazione, duas eleições papais e sei que os palpites lançados pela mídia e pelos entendidos em Vaticano são furadíssimos, quando não boçais de pai, mãe e assemelhados.
Apesar disso, sem qualquer autoridade, delegação ou propósito, ouso lembrar o nome do cardeal Dionigi Tettamanzi para suceder o papa que se foi. Evidente que, há bastante tempo, ele está entre os "papabili" por suas virtudes e méritos, e pelo fato de ter sido deslocado de Nápoles para Milão, celeiro de papas nos últimos tempos.
No caso de um pontífice italiano, restabelecendo a tradição rompida pelo polonês Wojtyla, ele é um dos nomes mais fortes para a sucessão. Mas não é por isso que penso nele como futuro chefe da cristandade.
De uns tempos para cá, todos os papas tiveram parentes no Brasil. Os cardeais elegem geralmente um desconhecido, logo algum dos nossos repórteres investigativos descobre que o eleito tem um primo ou uma cambada de parentes no Paraná, em Mato Grosso, em qualquer lugar do território nacional.
Pacelli, Roncalli, Montini e Wojtyla, que se tornaram os papas mais recentes, tiveram primos no Brasil. Tettamanzi (que me perdoe a falta de respeito por chamá-lo com tal e tamanha intimidade) tem parentes no Brasil. Conheço pelo menos um, bom e formoso sujeito, que atende também pela abreviação do nome, sendo Tetta (com dois tês) para os amigos e colegas.
Se ter parente no Brasil é condição indispensável para alguém se tornar papa, Tettamanzi deve levar. De sua biografia sei quase nada. Seu deslocamento para Milão é sinal que o credencia entre os cardeais italianos. Na impossibilidade de ser amigo do rei, espero ser amigo de um parente do papa. Já é alguma coisa.
Folha de São Paulo (Saõ Paulo) 07/04/2005