Eu estava passando pelo controle de segurança do aeroporto, quando o homem que ali estava me deteve:
– Por que o senhor está com a mão na cintura?
Só quando ele fez a pergunta é que me dei conta: como muitos, eu tinha, num gesto automático, enfiado a mão entre a cintura da calça e o ventre. Uma coisa que não dá a pessoa aquela grandiosidade do Napoleão (a mão do Imperador era introduzida sob a aba da casaca, no peito), mas que é absolutamente comum. Agora: por que eu tinha colocado a mão ali era algo para o qual eu não tinha explicação lógica, que talvez correspondesse a um motivo inconsciente.
Mas o segurança não queria que eu deitasse no divã (mesmo que houvesse divã ali) e analisasse o lado obscuro de minha personalidade, mesmo porque havia uma fila de pessoas esperando. Contentou-se em me fazer passar de novo, sem a mão na cintura, e dessa vez, para meu alívio, e acho que para o dele também, fui aprovado e pude dirigir-me para a sala de espera.
Não foi a primeira vez que tive problemas com segurança. Esses tempos foi embargado um frasco de protetor solar que eu levava; o limite para líquidos é de 100 ml, e o rótulo mencionava 200 ml. Não adiantou eu dizer que o frasco estava quase vazio; o que importava era a cifra do rótulo e embarquei sem o protetor solar, sujeito a ter problemas com os raios ultravioletas.
Mas pior mesmo aconteceu em Nova York, para onde viajei pouco depois do 11 de setembro. Vocês podem imaginar o clima de paranoia que reinava nos aeroportos, e disso em seguida eu me dei conta. Acontece que levava comigo o meu velho laptop.
Poucos dias antes o disco rígido desprendera-se; o conserto consistira em simplesmente fixá-lo com cola. Esteticamente não ficou o bicho, mas o importante é que o equipamento funcionava, e para mim, que não consigo viajar sem ele, era mais que suficiente.
Mas eu não imaginava o que me esperava no aeroporto americano. Tive de tirar o laptop da valise, claro. De imediato o segurança pegou-o e ficou a examiná-lo atentamente. Por fim me perguntou o que era aquilo, aquela substância estranha que ali aparecia. Respondi que era cola, e que se tratava de um conserto; era um laptop comum, ele poderia testá-lo quanto quisesse.
Uma proposta que o homem, àquela altura profundamente desconfiado, não aceitou. Anunciou que iria retirar uma amostra do material para mandar examiná-lo. E eu teria de aguardar ali. Esperei por cerca de uma hora, até que o funcionário apareceu com a boa notícia: era cola mesmo.
A verdade é que ser confundido com um terrorista potencial não deixa de representar uma certa emoção, sobretudo para pessoas pacatas como é meu caso. Por um momento a gente se sente revolucionário, engajado em algum misterioso movimento que quer mudar o mundo a qualquer preço (o que, na juventude, era o sonho de muitos de nós). Nesse momento, somos uma espécie de Che Guevara sem a boina característica.
Mas aí vem o segurança e nos manda tirar a mão da cintura. Vem outra segurança e nos diz que aquela substância em nosso laptop é cola mesmo, não um poderoso explosivo. Voltamos à vida normal. Não somos clandestinos, não somos passageiros de primeira classe. Somos comuns ocupantes da classe econômica. Mas, de qualquer maneira, seguimos viagem.