O presidente da República falou rindo, mas não brincou, quando disse a um de seus colegas, em recente reunião de presidentes, grande parte de cucarachas, que foi ao Gabão aprender como se fica 30 anos no poder, e se quiser ficará mais. O presidente Lula falou sério, primeiro por ter tomado o gosto do poder e, segundo, por lhe ter subido à cabeça a mudança do humilde ex-torneiro a chefe do governo da República Federativa do Brasil, uma nação emergente de 180 milhões de habitantes, mais de 8 milhões de quilômetros quadrados, portanto uma das maiores do mundo. O presidente Lula quer ficar, não há dúvida.
Na minha opinião, o que está fazendo o presidente é homenagear a monarquia, onde os chefes de Estado, cujas atribuições são mínimas mas constitucionais e imutáveis, além de serem permanentes como rito. Evidentemente, o presidente Lula não poderia governar numa monarquia. Não tem condições pessoais e intelectuais para tão alto cargo e para o rito que acompanha o regime e obriga a atribuições que o presidente do Brasil não teria tempo de aprender.
Se, porém, os republicanos do PT e todos os demais dos partidos que enxameiam na Justiça Eleitoral e no dia dos pleitos, querem, mesmo, um regime em que o chefe do governo possa permanecer mais do que os quatro anos ou os oito obtidos pelo presidente FHC, deveriam ter votado no plebiscito infelizmente manipulado pelos membros do PSDB e de outros partidos, pois que iriam perder o que se chama, vulgarmente, mamata republicana, que não é pequena, como estamos fartos de saber.
Volto, pois, à homenagem canhestra que a república presta à monarquia. Dá razão ao soneto de D. Pedro II, a justiça de Deus na voz da história. A justiça de Deus demonstrou que na mesma cadeira onde se sentou D. Pedro II, um dos maiores estadistas do século XIX, senta-se agora o simpático, mas limitadíssimo presidente Luís Inácio Lula da Silva, que tem qualidades e defeitos, como todo o mundo, mas não demonstrou, ainda, que tem qualidades para chefe de Estado, no verdadeiro sentido da palavra. É o que se pode dizer da conjuntura atual, em que o PT manda e desmanda.
Diário do Comércio (São Paulo) 23/09/2004