RIO DE JANEIRO - Sempre achei ridícula a tendência da mídia de futebolizar todos assuntos, transformando-os numa espécie de luta entre bons e maus, de vermelhos contra azuis, de Fla x Flu com infinitas variações. Da eleição de um papa ao melhor estandarte de uma escola de samba, os entendidos são pródigos em análises e prognósticos, havendo mesmo uma certa emulação para sagrar quem acerta o placar, uma loteria esportiva que, na maioria dos casos, não tem vencedor.
É bem verdade que somos condenados a nos interessar pelas eleições presidenciais nos Estados Unidos. Formadores e informadores de opinião torcem desbragadamente por um e por outro candidato, como se a vitória de um deles representasse uma futura idade de ouro para a humanidade.
Lembro a estupefação causada por Luís Carlos Prestes quando da primeira eleição após a ditadura do Estado Novo. Na luta entre o bem e o mal, representada pelas candidaturas do marechal Dutra (PSD) e do brigadeiro Eduardo Gomes (UDN), o líder comunista declarou que não via nenhuma diferença entre os dois.
Como? Dutra fora o condestável da ditadura, o brigadeiro representava a oposição ao totalitarismo. Como podiam ser a mesma coisa? Dutra era feio e casado, o brigadeiro era bonito e solteiro. Valia tudo para descobrir diferenças entre os dois. Mas Prestes tinha razão.
O mesmo se pode dizer dos atuais candidatos à Casa Branca. Republicanos e democratas podem ter vantagens e desvantagens no tabuleiro da política interna -que, aliás, diz respeito somente aos norte-americanos. No plano internacional, as diferenças são mínimas. E há os paradoxos: o endeusado democrata Kennedy patrocinou a invasão de Cuba, e o maldito republicano Nixon abriu o diálogo então possível com a China e a antiga URSS.
Folha de S. Paulo (SP) 7/2/2008