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Tempo de maratona

 

Não sei se merecem ser eleitos, mas devem estar merecendo alguma coisa, ou aqui mesmo, neste mundo de Deus, ou no próprio reino de Deus, que tem fama de ser melhor do que o primeiro. Li as andanças dos candidatos no último domingo, dia do Senhor, e todos, pelo menos os do Rio e de São Paulo, cumpriram a maratona eleitoral que incluiu visitas a igrejas de diferentes credos, cada qual vendendo o seu peixe e comprando a benevolência dos eleitores.


Ainda não foi encontrado um meio mais higiênico e menos estafante para chegar ao eleitor comum, que, apesar de agredido massivamente pela TV e outros recursos de comunicação moderna, não dispensa o que entendidos chamam de "corpo a corpo eleitoral", o afago na criancinha, o beijo na velhinha, o abraço no operário, os comes e bebes de circunstância.


Antes de sair de casa, devem tomar alguma poção mágica, recomendada pelo marqueteiro de plantão ou por um nutricionista especializado, capaz de neutralizar as injúrias alimentares a que são obrigados a enfrentar, desde as empadas e pastéis de botequim até as especialidades de circunstância, entre as quais a mais notável foi a buchada de bode que certo candidato foi obrigado a encarar e, deliciado, a lamber os beiços.


Deve sobrar pouco tempo e energia para promessas outras, para ouvir sugestões ou apelos. O importante é o candidato se vender como homem comum, ainda que seja uma mulher como a prefeita Marta, que já teve castelo em Itaipava e, quando se casou recentemente, usou um chapéu que nem Madame Pompadour teria coragem de usar.


Homem comum também se esforça para ser o meu amigo Conde, que nunca teve castelo, mas, a começar pelo tamanho, é incomum, além de arquiteto culto, com quem se pode conversar sobre a Espanha medieval e sobre as Guerras Púnicas, a primeira e a segunda.


Não pretendo votar na eleição deste ano, mas gostaria de votar em todos. Eles merecem.


 


Folha de São Paulo (São Paulo - SP) 28/07/2004

Folha de São Paulo (São Paulo - SP), 28/07/2004