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Status quo velho e novo

 

No jogo de forças enfrentado pelo status quo, mais se acentua a irrelevância, a esta altura, da saída de Temer. Assenta-se, sim, a força do delineio do regime na liderança irretorquível de Henrique Meirelles. E seu contraponto seria a interinidade de Rodrigo Maia até as eleições de 2018. Enquanto isso, não se sabe nem até onde vai a nova avalanche de condenações prometida pela Lava-Jato, nem se avançam demissões sucessivas dos ministros.

Nesse quadro, perde-se, inclusive, o impacto das alegadas melhorias econômicas, no reduzir-se a inflação ou no firmar-se uma política de empregos. Por sua vez, a discussão da maioria da hora não esconde as novas crises de fidelidade partidária e rupturas nas legendas decisivas para o sistema. Identicamente, o peso desses partidos sustenta a surpreendente manutenção da liberdade de Aécio, num novo possível e inquietante jogo de confrontos em que consistiu, numa medida ultracalculada, a primeira condenação de Lula pelo juiz Sergio Moro.

A soma algébrica de impasses canaliza, hoje, o debate institucional para o confronto entre os ministros do Supremo Roberto Barroso e Gilmar Mendes, a defenderem a obediência ao processo como imperativo do estado de direito ou ao princípio da estabilidade como norma primária do bem comum, reclamado pela organização pública. No que ainda nos interpela, aí está o desfecho do processo Temer, e importa saber se é, estritamente, o reflexo da Lava-Jato ou, de vez, a exaustão do nosso anticlímax político-partidário.

Depara-se, ao mesmo tempo, o amortecimento, senão a desaparição, de lideranças emergentes, a partir do vazio das esquerdas. Acompanha-a, também, o freio do jogo das direitas, apostando, também, na consolidação do regime e suas reformas nos próximos meses. Discrepa, no seu próprio imo, o clã de Bolsonaro, a buscar, desde agora, a diferença de caminhos.

Emerge, sim, a iniciativa política e, desde agora, num direto confronto institucional, muito mais do que à conta de qualquer mobilização estritamente partidária. É o que evidencia o antagonismo entre a Procuradoria-Geral da República e o aparelho judicial, na expectativa do deslinde do Supremo.

Nesse cerne do possível imobilismo partidário, só vão aumentar os reconhecimentos do impasse, no que leva Aécio Neves a solicitar a passagem ao regime parlamentarista. A Lava-Jato é, hoje, o eixo da sobrevivência política; assim, até onde irá a eliminação dos ditos “governos da propina”? O que está aí, em causa, e na força de seu sentido histórico, é a superação, de vez, do estigma de nosso subdesenvolvimento político, marcado pela privatização dos recursos públicos e pelo domínio dos regimes de clientela. O atual situacionismo dá-se conta do que há de irrevogável na trégua sem suspense do atual status quo. E a construção do novo momento do sistema nasce, sim, das barganhas das denúncias ora entrevistas ao Congresso e de até onde se transaciona, ou não, ainda com um regime da propina. 

O Globo, 31/07/2017