Todos temos uma lista de palavras das quais não gostamos ou que não entendemos.
"Sustentabilidade", que entrou em moda, é uma delas. "Transparência", "choque cambial", "alavancar", "coalizão" -minha lista não chega a ser longa, mas é radical. Agora mesmo, em nome da coalizão (ou da sustentabilidade), dona Dilma acaba de nomear um novo ministro da Pesca.
Nada contra o mandatário em si. É engenheiro, simpático, bem articulado, o pior que dizem contra ele é que se trata de um evangélico, como se isso fosse um defeito.
O próprio Marcelo Crivella reconhece que nada entende de pesca, mas, na atual circunstância, isso não o desmerece. Em nome da coalizão, qualquer um pode ser ministro dos buracos de rua, das águas servidas ou dos problemas que ainda não têm ministério. Taí uma pasta que até o Tiririca poderia ocupar: o Ministério dos Problemas sem Ministério -MPM, para efeitos burocráticos.
O presidente alemão Hindenburg, quando Hitler foi eleito depois de três derrotas nas urnas, hesitou em nomeá-lo chanceler, mas foi pressionado a cumprir a tradição. Finalmente convocou-o, mas exigiu dele que fizesse um governo de coalizão.
No primeiro gabinete que nomeou, Hitler fez o que velho marechal queria: pôs no ministério apenas dois nazistas,
Goering e o próprio Hitler. Os outros, a maioria, eram sociais-democratas e de outras correntes.
Deu no que deu. Em poucos meses, não havia mais gabinete nem partidos. A coalizão resultou num único partido e num único chefe: "Führer" é para essas coisas.
Longe de mim comparar dona Dilma e o PT com a Alemanha "über alles", mas ter um Congresso Nacional dócil é o sonho de consumo de todo presidente. E, depois do Congresso, a docilidade do empresariado e da imprensa.
Folha de S. Paulo (RJ), 6/3/2012