Citei mais de uma vez um provérbio chinês que me parece, não raro, importuno de ser invocado. Aconselha o Brocardo: "Não se faz previsões, especialmente sobre o futuro; logo, não se faz previsões".
Evidentemente, esse provérbio só pode ser entendido em sentido amplo, porquanto sem previsões não há vida em sociedade, mas o que a sabedoria chinesa pretende incentivar nas inteligências é que demasiadas previsões antes perturbam do que favorecem a vida em sociedade.
Vêm estas considerações a propósito da declaração do presidente Lula: "A direita vai perder o fôlego em tempo de eleição?". É de se perguntar, por direita ou esquerda: "E se não perder o fôlego?". O próprio Lula perdeu o fôlego em quatro eleições, ganhando brilhantemente no último pleito que disputou, mas não está escrito que no próximo será vencedor, pois as pesquisas de opinião, ainda que duvidosas sobre certos aspectos, dão a vitória a seu provável concorrente, o prefeito José Serra.
Eleição é um mistério, até mesmo na Academia Brasileira de Letras. O resultado é sempre incerto. Como já escrevi nesta coluna, Jânio Quadros tinha noção rígida e realista sobre os resultados das eleições, embora fosse ele mesmo um campeão de pleitos eleitorais, pois fez em quatorze anos o percurso de vereador paulistano à presidente da República através do voto popular, dado diretamente a ele, ao seu modo de falar, à sua mania de ser perfeito na construção da frase perante o público e à sua curiosa maneira de ser demagogo sem parecer que era.
Seja, portanto, uma questão de ordem todos saberem que eleições são incertas, como se viu até mesmo no colégio cardinalício. É o que o presidente Lula deve ter presente ao entrar numa eleição Dizer que o fará somente para ganhar é extremamente presunçoso.
Diário do Comércio (São Paulo) 22/12/2005