Uma olhada de relance pelas reportagens que anunciam mostras e retrospectivas de cinema, e constato o que sempre suspeitei: certos filmes e diretores "melhoram" com o tempo e se tornam xodós; outros "pioram" e vão perdendo prestígio e se evaporam até de museus e cinematecas. Acredito que isso não tenha a ver com a genialidade dos diretores ou com a qualidade de seus filmes. Eles continuam a ser o que sempre foram —quem muda somos nós, melhoramos ou pioramos.
Duas unanimidades hoje são Stanley Kubrick e Billy Wilder. Muita gente, inclusive eu, os escala entre os maiores do cinema. Mas, quando estavam vivos e na ativa, não era assim. Seus filmes, ao estrearem, eram louvados ou malhados por igual. Entre os de Kubrick, "Lolita", "2001: Uma Odisseia no Espaço" e "Barry Lyndon" foram chamados de pretensiosos e equivocados —um amigo meu, grande crítico, reduziu "2001" em 1968 a um "exercício de aeromodelismo". Quanto a Billy Wilder, ninguém na época achou que "Quanto Mais Quente, Melhor" fosse a maior comédia do cinema. E não era. Mas tornou-se, não?
O mesmo quanto a "Um Corpo Que Cai", de Hitchcock —os críticos "gostaram", mas nem tanto. Preferiam "A Sombra de uma Dúvida". E, durante anos, "Ladrões de bicicletas", de Vittorio de Sica, foi considerado o maior filme da história. Hoje está esquecido, assim como toda a deliciosa obra de De Sica. Em compensação, Luchino Visconti ganhou pontos, e "O Leopardo", recebido friamente em 1963, passou a ser o máximo.
Westerns adultos como "Rio Vermelho", de Howard Hawks, "Céu Amarelo", de William Wellman, e "Um Certo Capitão Lockhart", de Anthony Mann, sumiram do mapa, enquanto "Era Uma Vez no Oeste", de Sergio Leone, foi promovido de spaghetti-western a obra-prima. Filmes de super-heróis eram produções Z, feitos para crianças burras e com atores do terceiro time. Hoje são superproduções e com grandes nomes no elenco.
Bergman subiu, Antonioni desceu. Kurosawa desceu, Ozu subiu. Fritz Lang subiu, Eisenstein desceu. Orson Welles está descendo, e Fellini nunca parou de subir. E assim vai. Alheio a isso, sou radical: prefiro todos.