Se eu fosse comentarista de futebol profissional, provavelmente teria uma reputaçãozinha nesse mister. Mas, como não sou, não tenho reputação esportiva nenhuma para arriscar e, se o que eu disser não acontecer, tenho bem pouco a perder. Vou arriscar duas novas previsõezinhas inofensivas, até porque vocês já sabem o resultado do jogo de ontem.
Para isso, contudo, preciso de um crédito de confiança, coisa muito pedida no Brasil em outras áreas, de maneira que vocês já devem estar acostumados. É o seguinte: juro por todos os santos que estou escrevendo e enviando isto várias horas antes do jogo de ontem. Na verdade (desta vez, ao contrário da minha controvertida estada ou não-estada em Munique — até agora não tenho certeza) estou escrevendo num trem, na esperança de que a bateria do meu sofrido lapetope agüente. Não vi mesmo os jogos que virão — só vou ver o primeiro à noite e ainda não deu meio-dia.
Mas vou dizendo o que tenho quase certeza de que vai acontecer, já que pertenço ao desacreditado grupo que acha que não foi por acaso que a equipe canalhinha jogou como se tivessem posto Lexotan na água que ela bebeu aqui, nem tampouco acha que a escalação ou substituição de certos jogadores foi por acaso. Claro, não tenho prova nenhuma disso, é só na base do achismo mesmo. Acho que, no Brasil, ainda é permitido achar alguma coisa. Por não ter a mínima prova e somente evidências subjetivas, minhas e de outros que pensam como eu, não afirmo, até porque não quero ser processado, como tem andado cada vez mais na moda.
Neste belo meio-dia de sol, estou cantando o que vai dar no jogo de hoje (ontem para vocês). A Alemanha vai ganhar da Itália (talvez haja uma prorrogaçãozinha, para dar graça) e, no dia seguinte, Portugal só ganha da França no tapa — não literalmente, é claro, mas com a raça, coragem e determinação que já demonstrou. É que acredito que esta Copa está prontinha para os anfitriões, não por artes deles próprios, que até têm um bom time, mas por interesses maiores, que não tenho condições de expor aqui. E Portugal não é bem considerado Europa ainda, com a séria agravante de que tem um pouco de sangue mouro e isto não é bom, mesmo para quem leu aquelas hipócritas, embora talvez meritórias, declarações contra o racismo.
Para começar, ao contrário da seleção canalhinha, Portugal, além de ter recuperado um ou dois titulares importantes, vai marcar Zidane, coisa não feita pelos nossos briosos rapazes. Mas vai ter que brigar muito para ganhar. Já a Alemanha está designada para ganhar mesmo e até não será muito injusto, só que — ainda na base do achismo — já está resolvido. Depois vocês podem me gozar à vontade, se acabo de errar, no todo ou em parte.
O Globo (Rio de Janeiro) 05/07/2006