Numa terça-feira chuvosa de novembro de 1995, quando uma onda de violência ameaçava a cidade — a moda eram os sequestros —, cerca de 300 mil pessoas vestidas de branco se concentraram na Candelária numa impressionante manifestação convocada pelo Viva Rio. A palavra de ordem era: “Reage rico, reage pobre, reage Rio, a causa é nobre”. Estavam lá pedindo paz, do príncipe dom João de Orleans e Bragança a artistas famosos, que então protestavam nas ruas, não só dentro dos teatros.
Hoje, como dizia o pastor Luther King, “o que mais preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. Sob o pretexto de que há lugares piores, uma espécie de anestesia, uma incapacidade de reagir, parece ter tomado conta dos cariocas, que estão preferindo a inação. Falar mal dessa insuportável situação é, para alguns, falar mal do Rio. Preferem calar. Justiça seja feita a Brasília. É de lá que tem vindo sinais de um “basta”, como o do ministro e ex-governador Moreira Franco advertindo que aqui “a insegurança passou de todo e qualquer limite”. Para os que, inclusive políticos, gostam de comparar, ele disse: “Não dá para ficar como Aleppo”, cidade da Síria destruída pela guerra. Na mesma linha, outro representante do Rio no poder, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, filho do ex-prefeito e atual vereador Cesar Maia, concorda que “a segurança pública está sem controle no Rio” (falta agora um gesto dos outros que nos representam no Congresso).
Não se pode alegar que são palavras vãs vindas da Corte, pois o governo federal, por meio do ministro da Defesa, está começando a agir. Raul Jungmann promete uma “assepsia” geral, ou seja, uma força-tarefa contra o crime organizado como um todo, do tráfico de drogas e armas à lavagem de dinheiro. Segundo ele, a infiltração ocorre em todas as instituições públicas. “Elas foram capturadas pelo tráfico, e é preciso pegar a cadeia de comando para poder de fato ajudar a mudar a sensação de insegurança”. O seu discurso é realista e claro. Não promete “milagres” nem facilidades e admite que espera uma forte reação: “Vamos estar diante de uma espécie de guerra”.
Político experiente e com um currículo a zelar, ele merece um crédito de confiança, mesmo pertencendo a um dos governos mais desacreditados da História. Talvez por isso e porque o carioca tem o costume de reclamar, mas não de exigir, ele se encarregou de convocar a população: “Cabe à sociedade cobrar”. Jungmann sabe que, ao contrário dos anteriores, que tanta frustração causaram, o seu plano não pode fracassar. Reage, Rio.