Quando um jogador de futebol se machuca, diz-se que foi para o estaleiro. Utilizando a linguagem popular para a educação profissional, não será exagero considerar que ela também se encontra no estaleiro. Não que haja unanimidade nisso, pois devemos excluir de qualquer crítica a notável contribuição das nossas escolas técnicas, sempre um modelo de competência da instância federal.
Pensamos no conjunto da obra. Há uma nítida escassez de recursos humanos de boa qualidade no nível intermediário de educação, onde outros países, mais desenvolvidos, costumam dar verdadeiro show de bola. Formam-se técnicos, eles logo são aproveitados por um mercado de trabalho ávido.
Queremos nos referir especificamente à construção naval, que é objeto de uma grande preocupação do governo central. Hoje temos a perspectiva de entrarem em operação nada menos de sete estaleiros, alguns no Rio de Janeiro, como o STX de Niterói, e o grande problema que surge é o da qualificação de mão de obra necessária. São 33 sondas para o présal, só pertencentes à Petrobras, com um investimento de quase R$ 10 bilhões em prazo relativamente curto. Há gargalos evidentes, nesse processo, o que faz a alegria de estaleiros estrangeiros, como os da China, que sempre oferecem preços mais convidativos. Até quando vamos ficar sujeitos a isso?
As principais causas desse obstáculo aparentemente instransponível são a baixa qualidade da nossa educação básica e a falta de atração por parte dos jovens para essa fundamental atividade. Se o nível da educação é ruim, como formar técnicos com o mínimo de competência para evitar os riscos do anunciado apagão? A própria Petrobras é a primeira a reconhecer isso.
A vinda das novas sondas já licitadas exigirá um contingente de 25 mil pessoas treinadas, o que deve acontecer inexoravelmente até o ano de 2013. É sabido que o Senai faz o que pode, assim como o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo de Gás Natural (Prominp), do governo federal, mas é essencial que haja uma sensibilização ainda mais intensa.
Lembramos, a propósito, como se fosse uma premonição, o que realizamos nos idos de 1980, quando mobilizamos o Colégio Estadual Henrique Lage, em Niterói, para a realização de cursos técnicos especializados em processamento de aço e construção naval. A parceria foi feita com a Verolme, que abrigou os primeiros 25 técnicos, com grande efetividade e proveito.
A ideia nasceu no Conselho Estadual de Educação do Rio de Janeiro, graças a um histórico parecer do professor Carlos Alberto Serpa de Oliveira. Por que essas iniciativas não têm curso, em nossa educação, só Deus sabe.
O Globo, 21/3/2012