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Silvio Santos vai ao colégio

 

O Largo do Machado, aqui no Rio, abriga um belo prédio. É o Colégio Estadual Amaro Cavalcanti, obra do arquiteto Béthencourt da Silva, construído em 1875 e uma das quatro escolas criadas pessoalmente pelo imperador dom Pedro 2º para promover a educação pública. Ali, entre suas paredes, em 1929, a então secretária de Educação do Distrito Federal Cecília Meirelles produziu uma pioneira exposição sobre o cinema educativo. De 1935 a 1939, foi sede da revolucionária Universidade do Distrito Federal, fundada por Anísio Teixeira e destruída por Gustavo Capanema. Em 1963, ganhou o nome de Amaro Cavalcanti. O prédio é tombado. Essas informações estão na Wikipédia, ao nosso fácil alcance e do governador do Rio, Cláudio Castro.

Cláudio Castro quer mudar o nome do Colégio Amaro Cavalcanti para Colégio Senor Abravanel, o popular Silvio Santos. É natural. Cláudio Castro sabe que Silvio Santos foi um bem-sucedido camelô eletrônico e não sabe quem foi Amaro Cavalcanti. E também não procurou saber. Para sua instrução, aqui vão alguns dados sobre ele, também à disposição na Wikipédia.

Amaro Cavalcanti (1849-1922) foi um educador, jurista e diplomata cearense. Formou-se como professor nos Estados Unidos e, na volta, contribuiu para a modernização do ensino básico no Brasil. No Rio, foi um dos autores da Constituição de 1891, diretor do Colégio Pedro 2º, ministro do Supremo Tribunal Federal, prefeito da Capital Federal e ministro da Fazenda no governo Delfim Moreira. Como diplomata, foi consultor jurídico do Ministério das Relações Exteriores e membro da Corte Permanente de Arbitragem de Haia.

Poucos brasileiros têm currículo tão invejável e em tantas categorias. Mas Amaro Cavalcanti está morto há mais de 100 anos. No Brasil, isso é suficiente para que as mais nobres biografias se esfarelem diante da chegada de novos valores, mesmo pífios como Silvio Santos. Dizem que Silvio Santos fez as primeiras letras por ali, na região do Catete, daí a homenagem. É reconfortante saber que Silvio Santos fez as primeiras letras.

Não duvide. Cláudio Castro, um dia, também será nome de colégio.

Folha de São Paulo, 16/10/2024