A concorrência da mídia em vencer a disputa de quem está mais enojado com o presidente da Câmara chegou ao ponto de decretar Severino um cadáver, seja ou não provada a propina que teria recebido, propina já promovida a extorsão.
Severino veio ao mundo, parece que em 1930, já destruído politicamente, sem condições de afirmar que dois e dois são quatro. Independentemente das provas definitivas, grande parte da mídia já decretou que ele cometeu um ato que exige a perda de seus dois mandatos, o de presidente da Câmara e o de deputado. Provada ou não a denúncia, ele é, "ex officio", um criminoso que merece cadeia, com a seqüela macabra de ser baixado à sepultura ou por conta própria ou por consenso das vestais da política e da mídia. Um espetáculo que mereceria cobertura nacional.
Do meu ponto de vista, não somente as provas contra ele mas a defesa que ele faz de si mesmo não são ainda convincentes. O que me espanta é a certeza fanática de que Severino é culpado. Não apenas no caso do restaurante. Mas por ter nascido - um fato que até agora nem ele nega.
Compreendo a repugnância que a oposição e a mídia têm contra ele. Seria o caso de tornar a repugnância numa cruzada pela desobediência civil, convocar as forças vivas da nacionalidade, as reservas morais da nação para depor Severino e, com ou sem a aprovação do próprio, sepultá-lo em nome da decência e da ecologia espiritual do povo brasileiro.
Lembro as campanhas do antigo partidão, que defendia causas que me pareciam melhores. Pregavam a desobediência civil em nível de revolução. Nos manifestos distribuídos à nação, até os índios eram convocados. As palavras de ordem sempre terminavam com uma série de "vivas": Viva o Guia Genial dos Povos! Viva o Proletariado Internacional! Vivam os índios!
Convoquem-se os índios.
Folha de São Paulo (São Paulo) 14/09/2005