A juíza que, recentemente, tentou tornar inelegível o casal Garotinho, na semana passada teve sua sentença suspensa por instância superior. Sem entrar no mérito da questão, critiquei por duas vezes, aqui neste pé de página, o tom panfletário que ela imprimiu à sua decisão, extrapolando sua função de magistrado, emitindo comentários que ficariam adequados num artigo de jornal, numa mesa-redonda de rádio ou de TV, numa carta de leitor, num discurso em qualquer comício eleitoral.
Ao fazer o reparo à sentença da juíza, lembrei que o suposto crime cometido pelo casal em Campos (abuso de poder), se verdadeiro, está de tal forma entranhado na vida pública nacional que, também na semana passada, o governo federal, chefiado pelo presidente Lula, anunciou que vai gastar R$ 400 milhões para abafar a CPI que investigará o escândalo dos Correios.
Trata-se igualmente de um abuso de poder bem maior e mais danoso do que o supostamente ocorrido em Campos e que levou a juíza a querer "extirpar as ervas daninhas" da política que se faz no Brasil. Repito: não entro no mérito da sentença da juíza -nem tenho autoridade e competência para fazê-lo. A instância superior o fará e certamente condenará ou absolverá os Garotinhos, dentro daquela norma firmada no direito que considera o réu uma coisa sagrada: "res sacra reus".
PS - Chico Caruso pertence ao primeiríssimo time de nossos chargistas, ao lado de Ziraldo, Angeli, Jaguar, Aroeira, Miguel Paiva e outros. Na semana passada, Chico transcendeu à charge, ao desenho em si, e cometeu uma piada que considero uma das melhores que já li ou ouvi em toda a minha vida. O desenho em si nada tinha de especial. Lula está lendo um jornal e diz para Zé Dirceu: "Companheiro Dirceu, não sei se isso não é do meu tempo ou eu não estou entendendo mais nada: Garganta Profunda não era a Mônica Lewinsky?".
Folha de São Paulo (São Paulo) 05/06/2005