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Senhor presidente

 

Tive a intenção de evitar o uso de palavras que considero cansadas, com perda de substância, anêmicas porque esvaziadas na gastança do dizer, perdidas do viço da validade, ao saudar Ubiratan Aguiar, o novo presidente do TCU.


Das árvores pintadas, as folhas não caem, nem os brotos frutificam.


O presidente, os ministros, a ilustre platéia que nos honrou com a sua presença, não careciam de que eu falasse do significado da Corte. Todos sabiam o que definiu Rui Barbosa: Tribunal de Contas é "corpo de magistratura intermediária à Administração e à Legislatura" e que, "colocado em posição autônoma, com atribuições de revisão e julgamento, cercado de garantias contra quaisquer ameaças", deve "exercer as suas funções vitais no organismo constitucional."


Rui Barbosa disse tudo e o essencial, ou seja, onde se situa esse ente autônomo, revisor e julgador, inerente à democracia.


Não precisei dizer o mesmo de outro jeito, nem propor explicações diferentes doque seja controle externo, convivência com os poderes da república, respeito aos compromissos com a cidadania e ter por objetivo exponencial o indispensável zelo por uma teoria da qualidade do serviço público.


Queríamos era escutar o ministro Ubiratan Aguiar dizer de como comandará a nossa interface com outros órgãos de controle, para ganhos em efetividade, economicidade e eficácia. Dizer de como intensificará medidas de combate à corrupção, mas também ao desperdício que é silencioso, perante o estado. Dizer de como insistirá numa teoria da qualidade no serviço público, a fim de cortar a amargura de identificar crimes e punir culpados.


Quem senta naquele cadeiral de provações, muito mais que de predicamentos, tem ciência dos direitos e deveres embutidos numa Corte de Contas, seja no que está a cargo do seu corpo deliberativo, seja na responsabilidade dos diversos níveis técnicos. Do Ministério Público, nem se faz necessário exaltar-lhe a sabedoria e a probidade. Esta é uma louvação constante e crescente.


Estimei dizer ao presidente outras coisas que desfilam na minha cabeça de decano da Casa, um provecto servidor público, animadíssimo por esta fase da vida em que não usa os espartilhos da conveniência e experimenta a dor e a delícia da língua solta. Etapa em que também lhe é facultado trafegar com a experiência aprendida no espetáculo da vida.


Quero ser um língua solta que reage ao mesmo. Não suporto mais ouvir ou dizer o mais do mesmo. Nem tenho necessidade disso. Tenho é precisão de mais e melhor conhecer o outro. É de respeito ao outro que o mundo tem precisão. Conhecer o outro é imprescindível. Ademais, estamos no século do conhecimento e exatamente naquele dia se comemorava o 60º aniversário da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, vale dizer, do outro.


Li, no evangelho, segundo Mateus: "Naquele tempo, tomou Jesus a palavra e disse: 'Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve."


Como será bom que o novo presidente, que tem toda a competência para fazer um chamamento dessa espécie, tenha as condições de proclamá-lo, pois seu conhecido instinto de homem público, há muito completou-se em consciência.


Diário de Pernambuco (PE) 06/01/2009

Diário de Pernambuco (PE), 06/01/2009