O debate da Rede Globo de quinta-feira foi o mais acirrado das últimas eleições, e mesmo empolgante em determinados momentos. O formato do programa, colocando a cada momento dois concorrentes cara a cara, ajudou muito na sua dinâmica e deu a ele cores novas.
E foi nesse embate olho no olho que um fenômeno dessa eleição ficou explícito: o PT já não mete medo a seus adversários. Seja pela fragilidade da presidente Dilma, tanto nos resultados de seu governo quanto na formulação do seu raciocínio, seja pelos resultados que o partido está obtendo em todo o país, os adversários perderam o medo de se confrontarem com os petistas.
Até mesmo a liderança do ex-presidente Lula está sendo contestada nesta eleição, pois os postes que tentou lançar negaram luz desta vez, seja Alexandre Padilha em São Paulo, ou Lindbergh Farias no Rio. Consequência do insucesso dos postes anteriores, a própria presidente Dilma na presidência e o prefeito paulistano Fernando Haddad. A trinca de fracassos se fecha com a performance medíocre da ex-chefe do Gabinete Civil Gleisi Hoffman, um poste de Dilma. Mesmo o provável sucesso de Fernando Pimentel em Minas não abafará esses fracassos petistas.
A candidata Marina Silva colocou o dedo na ferida num comentário já com seu tempo esgotado, mas que foi registrado pelos microfones: “A maneira como você fala toda atrapalhada é a maior deunciação...”. Era a última chance de Marina Silva do PSB e Aécio Neves do PSDB firmarem suas posições para uma ampla audiência, em disputa do segundo lugar, e para a presidente Dilma tentar ampliar sua vantagem e fechar a eleição no primeiro turno.
Horas antes, pesquisas do Datafolha e do Ibope mostravam Dilma batendo no seu teto, a poucos pontos da vitória imediata, e os dois candidatos em empate técnico, com um movimento ascendente do tucano que a pesquisa do Ibope, que terminou um dia antes da do Datafolha, não captou por completo. Provavelmente hoje esse movimento ascensional seja refletido nas últimas pesquisas antes da eleição, já que Aécio saiu-se muito bem do debate.
Ao contrário do que fizeram seus antecessores José Serra e Geraldo Alckmin, nesta campanha Aécio vem defendendo o legado do PSDB sem titubear, e ontem no debate, enfrentado as velhas denúncias do PT contra as privatizações, anunciou a presença do ex-presidente Fernando Henrique na platéia, disse-se honrado com seu apoio e fez ironias com a possibilidade de empresas como as telefônicas ou a Embraer, em vez de privatizadas, ainda pertencerem ao Estado sob o comando do PT:
“Imagine o setor de telefonia, que já funciona tão mal, nas mãos do Estado. A senhora nomeando os dirigentes dessas empresas. Imagine uma Embraer, a grande empresa que compete, hoje, com êxito, em outras partes do mundo, nas mãos do PT. Nós fizemos as privatizações de setores importantes. No meu governo, a Petrobras vai ser devolvida aos brasileiros.”
Até Luciana Genro, do PSOL, que nesses debates tem feito o papel de metralhadora giratória, atirando para todos os lados, também tirou uma casquinha de Dilma: “Acontece, Dilma, que é o tesoureiro do PT que está envolvido nesse escândalo”.
Com a cópia da ata da reunião do Conselho de Administração da Petrobras sobre a saída do diretor Paulo Roberto Costa, preso por corrupção e em processo de delação premiada junto à Justiça, Aécio ressaltou que fora ele quem pedira demissão, e não fora demitido como afirmava a presidente: “A ata do Conselho da Petrobras diz que o diretor renunciou ao cargo e, pasme, recebe elogios pelos “relevantes serviços” prestados à companhia no desempenho das suas funções. Esse senhor está sendo obrigado a devolver R$ 70 milhões roubados da Petrobras. E o governo do PT o cumprimenta pelos serviços prestados à companhia.''.
Também Marina foi ao ataque, afirmando que Dilma não cumprira suas promessas de campanha: “A corrupção foi varrida pra baixo do tapete. [...] Você diz que foi o próprio diretor da Petrobras que disse que ia sair porque tinha recebido um recado. Foi negociação premiada. Existe a delação premiada. Houve uma demissão premiada, negociada no seu governo?”.
Dilma não encontrou no calhamaço que carrega de um lado para o outro – o formato do debate da Globo deixou mais clara essa dependência – uma explicação razoável para a contradição. Não será surpresa se em um próximo debate no segundo turno Aécio ou Marina pedirem para Dilma deixar de lado o caderno com as orientações de seu marqueteiro João Santana para responder às perguntas de improviso, no seu peculiar "dilmês".