Do noticiário da semana passada: "Levantamento feito pelo Banco Central revela que, no primeiro trimestre deste ano, os bancos lucraram no país R$ 6,335 bilhões, valor 52% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado. O crescimento do lucro do setor se explica pelo aumento dos ganhos com tarifas e com juros".
Nada contra os bancos. Eles operam, até prova em contrário, dentro das regras do jogo estabelecido pelo governo, via Banco Central, Ministério da Fazenda e vontade política dos governantes. Os bancos investem capital, correm os riscos de qualquer negócio, volta e meia um deles quebra por má administração -o que também faz parte do jogo.
Mas temos tudo contra o governo de um partido que desde a sua fundação, há 25 anos, esgoelou-se nas ruas, no Congresso e na mídia contra a concentração de renda, a alta dos juros, o sistema bancário como um todo. Um empresário, líder, na época, de uma instituição patronal, chegou a declarar que, se o PT chegasse ao poder, não haveria alternativa para o empresariado a não ser emigrar.
Exagero e falta de visão à parte, a ameaça servia como termômetro de uma situação não tão distante assim, dada a veemência com que o PT clamava por justiça social e contra o excessivo lucro do capital em detrimento do trabalho aviltado pelos grupos no poder.
Há dois anos e meio, povo e mídia, independente do governo e do PT, não fazem outra coisa a não ser escancarar, diante dos atuais governantes, a contradição entre o discurso antigo e a ação atual -ou a falta de ação. Contradição que muitos chamam de traição, das muitas que tivemos ao longo da nossa história.
Ao mesmo tempo, e na mesma semana, os jornais noticiaram que pesquisa recente revelou que 43% da população brasileira ganha menos do que um salário mínimo. A função de um cronista é comentar e analisar. Neste caso, nada há a comentar nem analisar. Basta mostrar a realidade.
Folha de São Paulo (São Paulo) 08/06/2005