Uma mancada do governador Pezão precipitou a revelação do plano de segurança para o Rio que vem sendo montado há alguns meses. Ao anunciar a vinda de cerca de 800 soldados da Força Nacional para o Rio, e ser surpreendido com a informação de que esse contingente já está chegando ao Estado desde maio, o governador revelou, pelo menos em parte, a estratégia que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) vem montando em sigilo, junto com o ministério da Defesa.
Embora o histórico mostre que há uma queda de 33% na violência quando as Forças Armadas estão fazendo o patrulhamento ostensivo no Rio, em ocasiões como as Olimpíadas, a conclusão das autoridades de segurança é que essa ação que chamam de “pirotecnia” não tem efeito de longo prazo.
É como se a bandidagem tirasse férias por um período, e voltasse quando esse esquema é desmontado. A promessa de que, dentro de poucos dias, os cariocas verão uma ação de segurança de grande repercussão, atingindo os líderes do tráfico e as conexões com o contrabando de armas, faz parte dessa nova estratégia de ação intermitente, baseada em investigação e informação para um combate mais efetivo do crime organizado.
Já está em funcionamento no Rio um Comando Conjunto das três Forças – Marinha, Exército e Aeronáutica – a exemplo do que aconteceu nas Olimpíadas, e esse aparato militar ficará atuando no Estado até o fim de 2018 pelo menos. Embora a ação ostensiva esteja sendo reivindicada pelo governo do Rio, para estancar o avanço dos assaltos que se multiplicam pela cidade, especialmente na Zona Sul, as autoridades de segurança acreditam quer tratando de questões mais pontuais como a repressão ao tráfico de armas e o patrulhamento das rodovias como a Linha Vermelha, que tem em suas margens diversas comunidades onde o tráfico disputa território entre suas gangues com alto poder de fogo, a ação terá mais efetividade a longo prazo.
O trabalho de inteligência integrado entre as diversas forças de segurança está sendo realizado já há algumas semanas ou meses, e os levantamentos daí provenientes é que permitirão essa próxima ação de repressão localizada, que será seguida por outras com o mesmo objetivo: cortar o suprimento de drogas e armamento.
O ministro da Defesa Raul Jungman diz que compreende a aflição dos cariocas com a violência do dia a dia, e o reforço da Força Nacional e da Polícia Rodoviária Federal poderá ajudar a aumentar a sensação de segurança. Até mesmo o combustível dos carros policiais poderá ser pago pelo governo federal, num Estado em que a falência econômica se reflete em todos os setores, até mesmo no pagamento do salário dos servidores e na manutenção dos prédios públicos.
A ajuda material aos órgãos de segurança do Estado será fundamental para tornar operativo o policiamento ostensivo, que será feito pelas polícias Militar e Civil do Estado, com o reforço material e de pessoal enviado pelo governo federal. Mas Jungman, que tem família no Rio, diz que somente um trabalho de longo prazo e permanente pode contornar a crise de segurança no Estado.
Com essa estratégia de longo prazo e usando a inteligência do Comando Conjunto, pela primeira vez o Plano Nacional de Segurança está indicando que também é tarefa do governo federal cuidar da segurança pública com o combate ao contrabando de armas e drogas que chegam ao Rio de Janeiro por portos, aeroportos e rodovias sem praticamente ser reprimido.
Se, por um lado, o governo central se exime da responsabilidade de fazer o policiamento ostensivo, ele assume a tarefa que fazer com que os comandos do crime organizado no Rio não recebam com tanta facilidade armas, munições e drogas.
Pode ser um trabalho de longo prazo que não resolve a questão imediata da segurança local, mas indica que pelo menos o combate ao crime pode ficar mais inteligente e organizado.