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A sedução do terror

 

Num mesmo dia da semana passada, em três países diferentes, três ataques terroristas mataram 67 e feriram cerca de 250 pessoas. Os atentados foram atribuídos ao Estado Islâmico (EI), que acaba de completar um ano como um califado entre as zonas conquistadas da Síria e do Iraque, aterrorizando e estarrecendo o mundo com vitórias militares e práticas primitivas e cruéis de execução de seus inimigos, isto é, dos “infiéis”, todos aqueles que não comungam do seu fundamentalismo. Em vez de esconder seus métodos bárbaros, esses jihadistas sunitas exibem na internet vídeos tecnicamente bem produzidos, com cenas de decapitação em série ou afogamentos das vítimas trancadas em jaulas e que, desesperadas, são mergulhadas lentamente num tanque com água. Ou, então, a morte pelo fogo. Esses atos hediondos, repulsivos, que deveriam causar só pavor e indignação, são usados pelo EI para efeito contrário, o da propaganda, e, como tal, recebidos por jovens de várias partes do mundo, a exemplo das três adolescentes inglesas sumidas e que a polícia suspeita terem ido se juntar aos 20 mil estrangeiros que engrossam as fileiras das milícias terroristas. Há tempos, três outras britânicas, de 15 e 16 anos, já tinham fugido para se tornar noivas de terroristas na Síria. As famílias não desconfiavam de nada e só descobriram a fuga quando viram suas fotos embarcando no aeroporto. Um dos algozes mais famosos, que aparece em vídeos de execuções com a faca na mão, é Jihadi John, também um britânico convertido ao terror.

Os analistas tentam entender os motivos dessa espantosa opção, se é pelo gosto do risco e da aventura, se pelo desencanto com a própria vida, se pela rebeldia em busca de uma causa, fanatismo ou excitação sádica. No domingo, o “Fantástico” entrevistou Maajid Nawaz, um ex-extremista recrutador de milicianos, que falou do seu antigo ofício, ressaltando a importância de combater a imagem vitoriosa do EI. “É importante mostrar as derrotas deles. Se eles aparecerem sempre como vencedores, podem dizer que Deus está do lado deles. É preciso vencê-los não apenas no campo de batalha, mas na guerra da propaganda”.

O Brasil está modestamente representado nesse voluntariado macabro. O brasileiro Kaíke Guimarães, residente na Espanha, foi preso na Bulgária quando tentava embarcar para se alistar. Já o belga Brian de Mulder, filho de brasileira, foi para a Síria em 2013 e ficou conhecido como Abu Quassem Brazili. Nem eles nem qualquer outro está lutando lá. Ainda bem. Que Alá continue mantendo afastados nossos jovens da sedução do terror. Já basta a das drogas.

O Globo, 01/07/2015