Como estudante, combati o presidente JK por causa do aumento de um tostão nos bondes cariocas. O movimento foi fortíssimo, mereceu repreensão da polícia, mas levou as lideranças estudantis a decretar, com muito sucesso, a chamada "greve dos bondes". Na porta do Instituto La-Fayette, impedindo a passagem dos bondes, sentamos nos trilhos e ali jogamos dama e xadrez, diante do sorriso maroto dos motorneiros e condutores, alguns dos quais também sentaram no meio fio defronte à Igreja dos Capuchinhos.
Mas JK foi sábio, com o seu reconhecido espírito de conciliação. Suspendeu o aumento e o movimento se esvaziou, voltando a calma às nossas instituições universitárias.
Esses fatos foram lembrados na visita feita à Escola Técnica Juscelino Kubitschek de Oliveira, no bairro de Jardim América, no Rio. Em companhia de Maristela Kubitschek, filha do ex-presidente, participamos das comemorações dos 25 anos de inauguração da escola, hoje com 1300 alunos. Ambos voltamos ao local onde estivemos - eu como secretário de Estado de Educação e Cultura - para comemorar o nascimento da importante instituição de ensino. Rememoramos a presença de personalidades como D. Sara Kubitschek, governador Chagas Freitas e Adolpho Bloch, tudo registrado em fotos devidamente enquadradas, preservando-se o seu valor histórico.
Há professores remanescentes dessa época. Fatos foram comentados sob forte emoção, pois criou-se ali um espírito de solidariedade que fez muito bem à formação dos alunos, até hoje beneficiados por cursos técnicos que conduzem ao mercado de trabalho. A conversa com os jovens foi mais uma vez extremamente proveitosa , caracterizada por um sinal bastante evidente da esperança, uma das marcas deixadas por JK, sobretudo na construção de Brasília: "É a capital da esperança."
Os discursos foram poucos e pequenos. A filha não deixou de proclamar o seu sentimento de orgulho. O ex-secretário, que privou da intimidade do presidente, nos tempos de privação dos seus direitos, pôde testemunhar a qualidade do ser humano completo, extremamente sensível à dor da injustiça contra ele cometida, por motivos políticos. Temia-se que ele voltasse ao poder, estava na memória do povo a idéia do "JK 65", e isso não convinha ao regime militar que então se instalava.
Os alunos e professores da escola técnica acompanharam a dissertação com muita atenção, como se fosse a primeira vez que tomavam conhecimento desses fatos lamentáveis da nossa história. Era preciso que aquilo tudo fosse dito, em benefício da verdade.
Na volta, a conversa com Maristela foi sobre a falta de livros a respeito desse período. A coleção JK encontra-se presa ao infortúnio da falência do Grupo Bloch. Mas vamos recorrer à Comissão Editorial da Câmara dos Deputados, em Brasília, para reavivar toda a história da glória e do sofrimento do homem que hoje é um modelo do político de que tanto se fala e se busca imitar.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 08/11/2004