Em meio a tanto obscurantismo, um momento de alento, uma pausa para a inteligência. Estive há dias aqui no Rio com o maior físico e astrônomo brasileiro. Ele mora nos EUA e desde 1991 ensina essas disciplinas para os americanos no Dartmouth College, em Hanover, New Hampshire, e é o primeiro latino-americano a ganhar o prêmio internacional Templeton 2019, conhecido como “Nobel da espiritualidade”, com direito a equivalentes R$ 5, 5 milhões.
A surpresa é que entendi tudo o que ele disse, não por mérito meu, evidentemente. Aos 60 anos, Marcelo Gleiser não tem a arrogância do saber e parece não pertencer ao país onde reina a ignorância arrogante.
“Devemos ter a humildade para aceitar que estamos cercados de mistério. A ciência não mata Deus”, ele tem a coragem dessa surpreendente afirmação, mesmo sendo agnóstico — “agnóstico, mas não ateu”. Ou seja, pode-se não acreditar em Deus, mas afirmar com certeza sua inexistência “não é cientificamente consistente”.
Segundo o presidente da fundação que lhe concedeu o prêmio, cuja entrega será em 29 de maio, em Nova York, os trabalhos de Gleiser defendem o que chama de “humanocentrismo”, isto é, a humanidade como centro da criação científica. “Ele é um dos principais proponentes da visão de que ciência, filosofia e espiritualidade são expressões complementares das quais o homem precisa para abraçar o mistério e explorar o desconhecido”.
Com quatro livros em inglês, nove em português, várias apresentações na TV e mais de cem artigos na imprensa, ele se dá como missão “fazer o público entender que ciência é apenas mais uma maneira de entendermos quem somos”.
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Um livro que Sergio Moro precisa ler: “Drogas: as histórias que não te contaram”. A autora (com Isabel Clemente) é Ilona Szabó, a grande especialista em segurança que ele convidou e teve que desconvidar. A epígrafe, uma oportuna advertência, é de Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU: “As drogas já destruíram muitas vidas, mas as políticas equivocadas sobre drogas destruíram muito mais”.