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Saco de espantos

 

Nunca tinha ouvido falar em Artur de Oliveira (1851-1882). Pelas datas de seu nascimento e de sua morte, fica difícil incluí-lo entre os suspeitos de pagar ou receber o "mensalão". Seria espantoso se fosse convocado a depor em qualquer das CPIs existentes.


Mas ele existiu mesmo, é patrono da cadeira nº 3 da Academia Brasileira de Letras, na qual espantosamente fico sentado nas sessões daquilo que antigamente chamavam de "nobre sodalício".


Quem o escolheu para patrono foi o próprio Machado de Assis. O primeiro ocupante da tal cadeira foi Filinto de Almeida, que desejava ter como patrono um poeta português. O regulamento da casa não o permitia. E Machado usou o seu direito de intervir. Escolheu Artur de Oliveira, que nem tinha livro publicado. Reclamaram do presidente, que se saiu com esta: "O Artur é um saco de espantos!".


Para quem não se espantava com nada, como Machado de Assis, aquele saco se espantos espantou a todos. Como sempre, ele tinha razão. Onde quer que esteja, o Artur de Oliveira deve estar espantado por me ver sentado na cadeira dele. E mais ainda, muito teria de se espantar se estivesse vivo, como nós, que compulsoriamente nos transformamos em sacos de espantos diários. Semana passada, uma bala perdida aqui no Rio atrapalhou um velório, perfurou um caixão e só não matou ninguém porque atingiu quem já estava morto.


Em Londres, um jovem brasileiro foi morto por engano pela polícia, inicialmente com cinco tiros. Causou indignado espanto. Que só foi menor quando ficamos sabendo que, em vez de cinco, foram oito os tiros que o mataram. Espantosa a diferença.


Na CPI dos Correios, a bela e comovente esposa do Valério criou um tipo de carro que fará sucesso no mercado. Um Land Rover menor do que o "Land Rover do Silvio". Haverá mais espanto quando alguém aparecer com um Land Rover maior.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 30/07/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 30/07/2005