O trabalho da historiadora Maria Celina d’Araújo é plausível. O leitor que dele tomar conhecimento vai ficar informado, mais do que já é pela mídia, de todos os escaninhos do poder, ao menos dos últimos anos, a partir de Getúlio Vargas. E da carta de testamento, que Victor Costa me disse que não era dele, mas de um jornalista amigo de Perón, dono ou diretor, apenas, de um jornal no Rio de Janeiro. Os demais sabiam, muito, até com detalhes.
Jango sabia de toda a conspiração, que foi deflagrada em Minas Gerais, depois de longamente preparada pelos militares que assumiram o poder em abril, depois da partida do general Mourão e do general Amaury Kruel, que garantiram a totalidade do apoio ao golpe de 31 de março. Isto, e mais ainda, que não cabe nos limites de um editorial, em mundo, o nosso, que não guarda segredo, por estar escancarado para o jornal, o rádio e a televisão, com direito de não darem a fonte das informações. Embora nos Estados Unidos uma repórter tenha sido presa por ter se recusado a dar a sua fonte, o que na grande democracia do Norte merece protesto.
Não se pode inocentar Lula, que se encontra nos estertores da tentativa de se salvar e, ainda mais, disputar o segundo mandato em 2006. Lula, sem dúvida, tudo sabia das verbas polpudas que aparavam seu partido e permitiam a "dolce vita" de seus correligionários. Não é incrível que um homem inteligente, com tarimba política já antiga e vivendo no meio político, onde a indiscrição é conhecida de todos, insisto, não é incrível que Lula não soubesse? Estaria voando nas nuvens com o presente que se deu logo no início do governo, pois que repugnou à sua apoteose mental o sucatão no qual voava Fernando Henrique Cardoso? Todos os dias, desde que explodiu o escândalo petista como uma bomba de TNT. Ainda no último domingo, foi preso no aeroporto internacional um simples assessor com cem mil dólares costurados na cueca, como se não tivéssemos polícia habilitada a caçar bandidos e ladrões, em suma, criminosos de vários tipos.
Ninguém é tolo nos dias de hoje. O tempo dos otários ainda não passou, mas diminuiu muitíssimo, com a avassaladora força da mídia, que descobre esconderijos, contas falsas, enfim, a parafernália de que se valem os delinqüentes para aumentar sua fortuna ou se iniciarem com autores de fraudes e crimes. O presidente Lula não se pode considerar inocente nessa imensa cloaca que é a política esposada por seu partido, por seus correligionários. Dentre os quais se salvam poucos. O fato inegável é que a crise agudíssima que envolveu o país nas suas tenazes, está cada vez mais complexa, mais intrincada, mais abrangente, e não poupa o presidente da República. O Brasil está sendo enxovalhado na mídia do mundo inteiro. E o País, que nunca teve boa imprensa, é malhado de cachações, que repercutem nos nossos interesses, embora os escândalos políticos e administrativos dos negócios públicos sejam comuns em numerosas nações.
Concluindo, tenho suficiente anos de jornalismo e de observação - estão aí os livros que publiquei -, para absolver Lula, já que sua ascensão deu razão ao padre Antonio Vieira: subir muda o homem mais do que o descer. Está aí, como exemplo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Diário do Comércio (São Paulo) 14/07/2005