O indiciamento do ex-presidente Lula pela Polícia Federal devido a benefícios ilegais que recebeu da empreiteira OAS calculados em cerca de R$ 2,4 milhões, entre as benfeitorias no tríplex do Guarujá e o armazenamento de objetos pessoais no depósito de uma transportadora, é um ato que, embora não definitivo, pois depende de o Ministério Público aceitá-lo, coloca mais uma vez a imagem do ex-presidente em xeque, retirando dele uma capacidade teórica de defender a presidente afastada Dilma Rousseff.
Se anteriormente era duvidosa a presença dele no dia do depoimento de Dilma ao Senado, agora já não há quem a garanta, pois os relatos são de que Lula está extremamente abatido. Pode ser até que vá a Brasília, mas já não há mais motivação para sua presença, a não ser a aparição num documentário que está sendo rodado sobre os dias finais de Dilma na presidência da República.
Não interessa a Lula aparecer como figurante de uma narrativa de derrota política protagonizada pela presidente que ele escolheu para substituí-lo, o maior erro político que cometeu contra si mesmo e contra o país.
Para Dilma, o ato final de sua aparição no Senado terá significado especial. Poderá deixar registrado para a história uma atitude de altivez diante da derrota inevitável, mas para o PT e especialmente para Lula, quanto mais rápido esta história terminar, melhor será.
No segundo dia de julgamento, o verdadeiro espírito do Senado veio à tona, com demonstrações de comportamentos baixos que só confirmam as piores expectativas que o cidadão tem em relação aos políticos. O presidente do Senado, Renan Calheiros, teve uma participação decisiva nesse festival de baixarias ao anunciar como uma atitude de defesa da senadora petista Gleisi Hoffmann uma ação protocolar da presidência do Senado em defesa do que consideram prerrogativas de senadores.
Certamente exacerbou sua oratória devido a provocações fora do microfone da senadora petista, mas ao fazê-lo demonstrou também que não tem condições políticas de ser o equilíbrio de um Senado que beira o patético.
No julgamento propriamente dito, para azar dos pecados da atual oposição, todos os seus argumentos foram sendo demolidos por declarações oficiais de envolvidos, a começar pelo Procurador do Ministério Público Federal Ivan Marx, que era apontado pelos dilmistas como autor de um parecer que inocentava a presidente Dilma das pedaladas.
O que disse o procurador em nota oficial? Que nem sequer analisou a atuação da presidente afastada, sendo seu relatório referente apenas a ministros e outros assessores da presidência. Sendo assim, quando afirma que houve maquiagem das contas e indícios de improbidade administrativa, mas não crime, não se referia à presidente afastada.
Também a Polícia Federal, ao indiciar o ex-presidente Lula, desmentiu a informação que durante dias correu solta nas redes sociais, alimentada pelos blogs sujos, de que não havia provas contra Lula em relação ao tríplex do Guarujá. Isso porque, em outro processo, a Polícia Federal havia indiciado várias pessoas em relação a um outro tríplex do mesmo condomínio, cujas propriedades estavam registradas em um paraíso fiscal.
Também está fadada ao insucesso a tentativa, iniciada na noite de quinta-feira, de denunciar um suposto complô no Tribunal de Contas da União (TCU) que resultou na condenação das contas de Dilma. O julgamento caminha para seu fim com uma tendência contra a presidente afastada que a cada momento se fortalece, e não haverá mais surpresas para serem apresentadas, e se aparecerem, serão contrárias à sua manutenção.
O próprio presidente do Senado, Renan Calheiros, pode ter encontrado uma boa explicação para votar a favor do impeachment, como está sendo instado pelo presidente em exercício Michel Temer.