Já que o segundo turno é outra eleição, como se cansam de dizer os analistas, é inevitável que os dois finalistas ajustem suas estratégias e mexam com suas imagens.
Alguns sinais de mudança já vinham sendo percebidos para essa nova etapa como, por exemplo, um movimento dos extremos em direção ao centro e à pacificação, feito com cuidado.
“Eu não posso virar o ‘Jairzinho paz e amor’ e me violentar”, disse Bolsonaro, advertindo que tem que “continuar a mesma pessoa”. Ou seja, não pode abandonar bruscamente a figura que o consagrou. “Lógico que a gente usa sinônimos e de vez em quando falava palavrões. Eu não falo mais”, prometeu.
Outro sinal dessa inflexão era a atitude de quem antes propunha “metralhar a petralhada” e agora diz do ex-presidente: “Tinha tudo para ser um grande presidente, um homem que ia deixar marca na História, mas resolveu enveredar por outro caminho. Eu lamento o Lula estar nessa situação, preso, mas ele está colhendo o que plantou.”
Pouco depois, vi a entrevista dos dois ao Jornal Nacional, fazendo crer que tudo começava em clima de paz. Ambos se respeitavam e garantiam respeito à Constituição de 1988 e à democracia. E mais: desautorizavam os excessos de aliados — Bolsonaro discordando de seu vice sobre a proposta do autogolpe (“ele deu uma canelada”), e Haddad rechaçando José Dirceu. “O ex-ministro não participa da minha campanha, não participará de meu governo (...) A democracia está em primeiro lugar.”
Por isso, soou estranho quando li a seguinte postagem no Twitter do deputado: “O pau-mandado de corrupto me propôs assinar ‘carta de compromisso contra mentiras na internet’. O mesmo que está inventando que vou aumentar Imposto de Renda pra pobre. É um canalha! Desde o início, propomos isenção a quem ganha até R$ 5.000. O PT quer roubar até essa proposta.”
É pena que os dois, que estavam ensinando como divergir, não tenham evitado que o dia terminasse com um ruído tão desagradável. Não vale repassar seja o mérito, seja a culpa. Cabem aos dois.