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Ronaldo Caiado entre a política e a medicina

 

"Habemus confitentem reum". Na primeira sessão do julgamento no Senado, quando se discutia o impeachment da presidente Dilma, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) declarou indignada que aquela Casa (o Senado) não tinha moral para julgar a principal responsável pela crise generalizada que estamos passando. Teve lucidez bastante para omitir o pessoal do PT, inclusive ela própria e seu marido, que estão sendo investigados pela Operação Lava Jato.

Uma ofensa generalizada, até certo ponto, não deve ser levada a sério. Em si, a primeira sessão que está julgando o impeachment da presidente Dilma foi uma lástima. Quase não se discutiu o motivo da reunião e, sim, as rixas partidárias, com o PT gastando toda a sua munição em desclassificar os adversários.

Lamentável, sobretudo, o duelo, felizmente verbal, entre dois senadores exaltados na defesa de suas posições. Conheço de passagem o senador Ronaldo Caiado, que entrevistei quando foi candidato presidencial na eleição que levou Collor à Presidência. Praticamente desconhecido, ele não teve mídia suficiente para se eleger.

Na revista em que eu trabalhava, estava programada uma entrevista com todos os candidatos daquela eleição. Parece-me que a única oportunidade que teve com um órgão da imprensa foi a minha entrevista, durante a qual o telefone móvel que ele levava avisou-o de que uma paciente que ele operara pela manhã estava precisando dele.

Caiado é médico, pediu-me desculpas e se retirou para atender aquela emergência, desperdiçando uma oportunidade de se dirigir ao eleitorado. Entre a profissão que exerce e a possibilidade de uma eleição presidencial, Caiado optou pela sua profissão de médico, desprezando uma carreira política da qual gastou somente cinco minutos na rara oportunidade de se dirigir ao eleitorado. 

Folha de São Paulo (RJ), 28/08/2016