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As regras do poder

 

Todo poder, seja monárquico, presidencialista, parlamentarista, conselheiral, obedece a um rito, sem o qual não tem possibilidade de se manter duradouramente.


Foi assim na União Soviética, enquanto ela existiu, e é assim na Inglaterra realista, com uma rainha eleita (como dizia Gilbert Keith Chesterton) pela democracia do tempo, gerações que se acumularam e que escolheram uma casa real para continuar na história no rito do poder.


Nos EUA prevalece o regime presidencialista, que está sujeito ao rito imutável através do tempo, desde George Washington até George W. Bush. Não se altera esse rito no dia da posse do novo presidente, eleito por quatro anos; ele jura com a mão sobre a Bíblia, exemplo da validade imortal dos princípios que regem a grande nação.


Assim é também no Brasil e nos demais países presidencialistas, que não pretendem interromper a linhagem que foi esposada no início da vida em liberdade.


Nas ditaduras inventa-se (como aconteceu no Brasil de Getúlio Vargas) um símbolo de união nacional, concentrada no chefe do poder supremo, dure enquanto durar, sendo ele garantido pelas forças armadas e pela maioria política eventualmente formada. Se não tiver um rito permanente (ou pelo menos duradouro, como foi o caso de Perón na Argentina), o rito se mantém através dos partidos.


As democracias vivem pelo rito a que obedecem e as ditaduras se embandeiram em torno de um rito eventual, mas ao mesmo tempo duradouro, pelo menos enquanto o chefe contar com apoio. Até hoje conservaram-se, segundo o rito, as monarquias européias e as asiáticas, o presidencialismo americano e o das ditaduras, com duração variável.


Em suma, o rito do poder é fundamental para a garantia da continuidade dos governos.


Diário do Comércio (SP) 27/7/2007