Cada vez entendo menos de política. Não quer isso dizer que entenda de outras coisas, como o futebol, por exemplo. Mas sei que qualquer técnico, ao escalar um time titular, procura escolher o time reserva para a eventualidade de uma substituição. Todos os titulares têm um reserva adequado, muitas vezes tão bom que fica difícil saber quem é o titular e quem é o reserva.
Na política deveria ser assim. O partido procura escolher o melhor candidato para disputar a Presidência da República. A briga de foice termina indicando alguém que a cúpula partidária e as bases, em tese, consideram com melhor trânsito no eleitorado. Até aí, tudo bem, mais ou menos como no futebol.
Mas, na hora de escolher o reserva do titular para qualquer emergência, aí a política perde em eficácia e em lógica para o futebol. As executivas dos partidos não procuram um segundo em hierarquia intelectual, política e social.
Pelo contrário. Procuram, geralmente no baixo clero, um nome tanto quanto possível inodoro, informe, desde que traga por meio das coligações mais minutos na TV e, hipoteticamente, contemple regiões tradicionalmente menos favorecidas do país.
No futebol, um Castilho era substituído por um Veludo, um Joel, por um Garrincha, um Leônidas, por um Pirilo.
Na política, a diferença entre o candidato à Presidência e à Vice tende a ser colossal, dando a impressão de que, quanto mais diferença existir, melhores chances haverá para a chapa.
Tivemos uma sucessão de vices contemplados com o mandato: Café Filho, Delfim Moreira, João Goulart, José Sarney, Itamar Franco e outros.
Uns mais, outros menos, deram conta do recado. Mas tinham contra si o natural constrangimento de terem sido escolhidos por força de um arreglo político.
Folha de S. Paulo, 1/6/2010