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Reação previsível

 

A carta de advogados com críticas à Operação Lava-Jato e ao juiz Sérgio Moro, já identificada como estratégia saída da defesa de Marcelo Odebrecht, e uma possível “campanha de comunicação” para tentar influenciar a opinião pública contra os Procuradores e melhorar a imagem dos envolvidos nos escândalos da Petrobras, são reações já esperadas à medida que as investigações avançam e chegam mais próximo do momento da denúncia contra grandes empresários e políticos.

Na contabilidade do chefe da equipe de Procuradores da Lava-Jato, Delton Dallagnol, estão envolvidas “mais de 60 bancas de advogados que dominam o discurso jurídico, da melhor qualidade técnica, pessoas altamente influentes politicamente, poderosas economicamente, e é natural que em algum momento esse discurso ganhe volume”.

Eles têm em mente o que aconteceu na Itália durante a Operação Mãos Limpas, que teve um apoio popular grande durante os primeiros momentos e acabou sendo envolvida por diversas denúncias que, mesmo não tendo sido comprovadas, corroeram a confiança popular.

A reação do sistema político teve seu auge com a eleição de Silvio Berlusconi como primeiro-ministro em 1994. Os juízes Di Pietro – que mais tarde entraria na política - e Davigo foram convidados para serem seus ministros, mas recusaram diante da evidência de que o que Berlusconi queria mesmo era desmobilizar a Operação Mãos Limpas.

Tomou corpo, então, uma campanha de difamação contra as principais figuras da Operação Mãos Limpas, em especial o Juiz Di Pietro, e acusações de abuso de poder nas investigações. Não é novidade, portanto, a campanha que vem sendo desenvolvida pelos advogados de defesa contra os Procuradores e a Polícia Federal, da mesma maneira que o Supremo Tribunal Federal (STF) sofreu críticas devido a decisões tomadas durante o julgamento do mensalão.

O conselho de ministros do novo governo italiano aprovou um decreto-lei impedindo prisão cautelar para a maioria dos crimes de corrupção, a partir do que grande parte dos presos foi solta. O decreto, que ficou conhecido como “salva ladrões”, causou tanta indignação popular que acabou sendo revogado poucos meses depois de editado, mas provocou retrocesso nas investigações.

Por isso o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos membros da Lava-Jato, já fez críticas ao STF quando decidiu pelo desmembramento de alguns processos, alertando que a decisão poderia significar “o fim da Lava-Jato”, e deu entrevistas identificando “dedo do governo” na edição de medidas beneficiam investigados da operação, como as mudanças nas regras de leniência e a repatriação de recursos ilegais no exterior.

Assim como o juiz Di Pietro abandonou a Operação Mãos Limpas, fragilizando-a politicamente, há boatos de que o Procurador Carlos Fernando ameaça deixar a Lava-Jato “por cansaço”. Seja verdade ou simples “guerra na internet” como classificam os Procuradores, sua exasperação é visível nas entrevistas, e a maneira desabrida com que trata as questões tem provocado mal-estar entre alguns companheiros de investigação, que não querem dar pretexto para os que objetivam boicotar a Operação Lava-Jato.

A Operação Mãos Limpas durou 10 anos, mas foi nos três primeiros que teve ação mais efetiva, condenando inclusive políticos importantes como Bettino Craxi, do Partido Socialista Italiano, que acabou se asilando na Tunísia, onde morreu, para não ir para a cadeia.  

Em vez de terem aprovado reformas que evitariam a corrupção, na Itália acabou se assistindo a uma reação do sistema, dos próprios investigados, pessoas poderosas e influentes, e foram aprovadas leis para garantir a impunidade. Por isso os Procuradores  da Operação Lava-Jato propuseram as "10 medidas contra a corrupção", que pretendem apresentar como projeto de iniciativa popular ao Congresso ainda no primeiro semestre deste ano.

Já tem nos primeiros dias de janeiro 1 milhão e 200 mil assinaturas, e para tanto precisa de 1 milhão e 500 mil. 

O Globo, 26/01/2016