RIO DE JANEIRO – São coisas que acontecem com qualquer um, até mesmo comigo. Bem verdade que nunca cheguei a tanto. As surpresas que desabaram sobre mim foram poucas e pífias. Mas tenho um amigo que pode perfeitamente ocupar o pódio do incrível, fantástico e maravilhoso.
Começa que ele tem 1,60 m, altura abaixo da média do brasileiro comum, insuficiente para se destacar do resto do gado. Além disso, é feio, um pouco vesgo e com cabelo mal distribuído em cima do crânio. Era citado como o careca mais cabeludo e como o cabeludo mais careca da cidade.
Mesmo assim, fazia sucesso em tudo o que se metia ou que se metia com ele. Sobretudo, era o bendito entre as mulheres, as melhores e as mais cobiçadas mulheres do Rio daquele tempo. Não tinha uma profissão definida, diziam que havia herdado alguma coisa dos pais, morava sozinho, mas dormia todas as noites bem acompanhado. Às vezes, com duas companhias. Ele ficava no meio.
No final dos anos 80, chegou ao Brasil uma milionária canadense que havia sido Miss Mundo e ainda tinha muito caldo para esbanjar. O que deram em cima da mulher não foi mole. Escolhe aqui, escolhe ali, ela não resistiu e ficou com ele durante a sua temporada carioca. Deu-lhe tudo, até mesmo ações de diversas companhias multinacionais e uma vila em Portofino.
Todos queriam saber o segredo do seu sucesso ou da sua sorte – o que daria no mesmo. Tratava-se de um bem dotado fora de série, como o Porfírio Rubirosa? Nada disso. Era medíocre na cama e na mesa, seu prato predileto era almôndegas com macarrão, com queijo e goiabada à sobremesa.
Como disse, era meu amigo. Um dia perguntei-lhe a razão de tanto sucesso e ele respondeu com candura: “Não sei, só faço o que é necessário”.
Jornal do Commercio (RJ) 5/8/2008