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A rainha Esther

 

Foi com muita emoção que o UniFMU, comandado pelo professor Edevaldo Alves da Silva, concedeu o título de professor honoris causa à figura respeitável de Esther de Figueiredo Ferraz, que freqüentou salas de aula, distribuindo o seu notável saber especializado em direito penal a milhares de alunos, deixando uma lembrança indelével. Ela teve a vida caracterizada por uma série de primeiros lugares, a partir de sua própria mãe, que, em 1907, foi a primeira mulher a tornar-se dentista em nosso país. A dra. Esther é a única mulher até hoje a ocupar o Ministério da Educação e Cultura, o que ocorreu no governo João Figueiredo, em 1982, ficando a seu crédito uma questão emblemática: aprovou a emenda João Calmon, ampliando os recursos destinados à educação, em todos os níveis de ensino. Ficou no MEC quase três anos. Entrou trazendo esperanças. Saiu sob aplausos dos estudantes, dos seus colegas professores e de políticos das mais diversas facções. Foi também a primeira a integrar o Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil, a primeira secretária de Estado da Educação de São Paulo, a primeira reitora de universidade na América Latina (Mackenzie, em 1965), primeira mulher a dar aula no curso de direito da USP (década de 50), quando ocorreu um fato digno de registro. Preparou-se para a primeira aula, mas ficou nervosa. Temia pela recepção dos alunos. Dirigiu-se à turma com firmeza, os alunos se levantaram e bateram palmas. Na mesa da mestra, havia uma colorida maçã, com um bilhete: "An apple for the teacher" (uma maçã para a professora). Todos caíram na gargalhada, embora na época fosse raro encontrar mulheres nas universidades. Temos excelente lembrança dos tempos vividos por ela como membro do então famoso Conselho Federal de Educação. Conviveu 12 anos com alguns dos melhores educadores de todos os tempos, autores de pareceres que até hoje são recordados, como reflexo de competência e de sabedoria. A dra. Esther costuma recordar com muita simplicidade, como é o seu estilo, que foi alfabetizada aos 5 anos de idade, brincando com as letras e os números. Marcou sua vida pelo pioneirismo bem-sucedido e respeito muito grande pelos seres humanos.


 


Ela teve a vida caracterizada por uma série de primeiros lugares; até hoje, é a única mulher a ocupar o Ministério da Educação e Cultura


 


Professora de ensino médio de português, francês, latim e matemática, foi licenciada em filosofia pela Faculdade de São Bento. Exerceu vários cargos técnicos e administrativos na área educacional, fazendo da sua vida um bonito casamento com a carreira, que jamais desprezou. Assim chegou à imortalidade, entrando para a Academia Paulista de Letras, onde hoje é uma das figuras mais proeminentes. Além disso, continua trabalhando no seu escritório de advocacia, em São Paulo. Data de 1961 o título de professora de direito judiciário penal da Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie. Pertence ao Instituto Histórico e Geográfico, onde todos fazem questão da sua companhia, e recebeu, ainda, numa solenidade de que fui testemunha, o Prêmio Professor Emérito - Troféu Guerreiro da Educação, oferecido pelo jornal "O Estado de São Paulo" e o CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola).




Adepta do pensamento de que "as coisas boas não aparecem, só as ruins", a dra. Esther hoje reconhece que há aspectos favoráveis do ensino brasileiro que devem ser destacados. Abona sobretudo a grande ampliação de oportunidades, que considera uma bênção dos novos tempos. Método bom é aquele que apresenta bons resultados, costuma afirmar, apaixonada pelo método silábico na alfabetização, sem desdouro para outras experiências positivas que estão em curso nas nossas escolas.




Outra qualidade a se destacar, na personalidade da professora Esther de Figueiredo Ferraz, é a grande defesa que sempre fez da necessária qualificação do magistério. Sem isso, diz, é difícil obter êxito nas tarefas inerentes aos diversos graus de ensino. São ainda de sua autoria reflexões sobre as quais devemos sempre nos debruçar. A primeira é para inferir que "o Direito não é fácil, ao contrário, é dificílimo". E a outra condiz bem com o espírito luminoso da querida professora: "O meu forte é realizar, é fazer bem feito". Assim tem sido a vida da professora Esther de Figueiredo Ferraz. Na Bíblia, Esther é rainha. Na vida brasileira, a homenageada pode ser considerada também rainha, no Direito e na educação.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 06/07/2006

Folha de São Paulo (São Paulo), 06/07/2006