O cenário era o auditório da Casa do Marinheiro, no subúrbio da Penha, no Rio de Janeiro. A 4ª. Coordenadoria Regional de Educação (CRE), da Secretaria Municipal, reuniu 180 alunos e professores para ouvir uma exposição sobre o centenário da escritora Rachel de Queiroz, na Maratona Escolar que conta com o apoio institucional da Academia Brasileira de Letras. O apelo da Secretária Cláudia Costin, interessadíssima em valorizar o gosto pela leitura, fora plenamente atendido.
Nesse ambiente, depois de discorrer durante 50 minutos sobre a vida e a obra da grande autora de “O Quinze”, um clássico do romance nordestino, fomos bombardeados (a expressão é essa mesmo) por uma saraivada de perguntas pertinentes dos jovens alunos das oitavas séries de diversas escolas da região, algumas delas inclusive situadas em zonas de risco. Não houve qualquer tipo de restrição: vieram questões de todo jeito, a comprovar que os professores de língua portuguesa tinham preparado adequadamente os seus alunos para aquele importante debate. Chama-se a isso motivação, a que se pode acrescentar a palavra competência.
Não há outra explicação para as 21 perguntas formuladas. Desde quando se questionou por que ela havia morado muitos anos na Ilha do Governador (o seu marido, Oyama, era médico do Hospital Paulino Werneck), até a colocação feita, sob protesto, das razões que levaram o Estado a não promover a criação de um Museu Rachel de Queiroz, na casa que habitou na Ilha. Tivemos que responder , tristemente, que ainda não adquirimos o saudável hábito de preservar sítios históricos. Como exemplo anterior ao da Rachel, a derrubada da casa em que morou Machado de Assis, no Cosme Velho, vivendo o seu bonito romance com a esposa Carolina. Hoje, é um enorme prédio de apartamentos. Também não deveria ter sido conservada?
Uma aluna, bonita no seu uniforme escolar, quis saber a razão pela qual a escritora se achava “preguiçosa”. A nossa opinião é de que era charme puro, pois ela trabalhou intensamente, também como jornalista da revista “O Cruzeiro” e do jornal “O Estado de São Paulo”, além dos muitos livros que escreveu e das traduções realizadas, como aconteceu com o famoso “O morro dos ventos uivantes” (tradução feita da língua inglesa).
Em outro momento, um rapaz perguntou se ela havia chegado a lecionar, depois de se formar, em Fortaleza, como professora primária. Na verdade, sobrou-lhe pouco tempo para isso, pois logo se voltou para a elaboração de “O Quinze”, concluído pouco antes de completar 20 anos de idade.
A curiosidade alcançou a multiplicidade da obra de Rachel, quando a pergunta versou sobre a sua atividade teatral. A menina sabia que ela havia escrito a peça “A beata Maria do Egito” e aí houve o engate de outra questão: “Ela gostou da versão feita na televisão do livro “O memorial de Maria Moura”? Tivemos que usar de muita sinceridade, na resposta: “Ela não gostou de alguns enxertos. Chegou a reclamar disso numa entrevista aos jornais.”
Jornal do Commercio (RJ), 25/3/2011