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A questão do Prata

 

Tenho escrito várias vezes sobre a Questão do Prata, mas como sua solução parece longe de ficar paralisada, no enlace de uma entente cordiale dos dois países, volto ao meu ritornelo , acentuando que o faço por admirar a Argentina, suas instituições culturais, seus costumes, a beleza de suas cidades, principalmente da mais bela capital da América, Buenos Aires. Sou, portanto, insuspeito de patriotismo exagerado, contra um vizinho da altura da Argentina.


Mas, que há uma Questão do Prata, há, e nem mesmo a Guerra do Paraguai, com a Tríplice Aliança, com a nossa vitória, com os nossos prejuízos, com a repercussão da guerra na mentalidade das nossas forças armadas, que se passaram para o lado republicano, nem mesmo fatores sanáveis resolvem os componentes da questão. O Mercosul tomou grande impulso e funcionou bem com Sarney e Fernando Henrique, que tudo fizeram para consolidá-lo.


Mas, agora, com Kitchner, presidente que, no exato sentido das palavras, veio do frio para Buenos Aires, parece que os nossos vizinhos estão mudando e a Questão do Prata tomou nova vida, por assim dizer ressuscitou, e está dando trabalho à nossa chancelaria. Não sei se está ela trabalhando bem, ou se fatores ideológicos atuando no pessoal superior da nossa diplomacia têm perturbado o bom entendimento entre os dois países, com o fortalecimento do Mercosul e sua expansão para outras latitudes.


Em suma, que há uma Questão do Prata, há, apesar de uma história comum em vários acontecimentos, mas, paralelamente, há uma questão contra, isto é, uma questão que precisa ser desmontada - sem trocadilho de nossa parte - para termos paz no continente, dando-se as mãos os dois países, cada qual com sua missão não só na América, mas no mundo, onde um e outro tem projeção e prestígio suficientes para concorrer à paz mundial e ao intercâmbio comercial com vantagens econômicas significativas.


 


Diário do Comércio (São Paulo) 12/10/2004

Diário do Comércio (São Paulo), 12/10/2004