Na série Brasil, Brasis, realizada na Academia Brasileira de Letras, realizei palestra no seminário “O esporte, além do futebol”, coordenado pelo acadêmico Domício Proença Filho. Trouxe à baila a instigante dúvida sobre a pequena quantidade de medalhas de ouro que trouxemos das Olimpíadas de Londres (somente três). E de novo perdemos no futebol de campo, que é o nosso esporte mais popular. Dessa vez, fomos vitimados pelo México, que nem é tão forte assim.
Um país com a dimensão do nosso e hoje considerado como a sétima ou oitava economia do mundo, nas últimas Olimpíadas ficou em 22º lugar, atrás de nações reconhecidamente menos desenvolvidas, como Cuba e Jamaica. A lógica determina que houvesse uma relação de causa e efeito entre a renda do país e a sua colocação esportiva, o que infelizmente não acontece, no nosso caso.
Na verdade, o nosso setor esportivo não é dos mais organizados. Existem federações, confederações etc, mas isso tudo desligado de uma política nacional de desenvolvimento esportivo que não privilegie só este ou aquele esporte, mas todos indistintamente. O voleibol, hoje o segundo esporte nacional em popularidade, é um modelo a ser seguido. Mérito dos atletas e dirigentes Carlos Arthur Nuzman e Ari Graça, que botaram ordem na casa e em consequência começamos a acumular, no masculino e no feminino, medalhas preciosas. Hoje, o voleibol desbancou o desorganizado basquetebol brasileiro (já fomos campeões mundiais e depois, degringolou).
Falei no auditório da ABL sobre o espanto com os números explosivos da nossa educação. Há 60 milhões de estudantes e cerca de 250 mil escolas em todo o território brasileiro. Temos mais de 200 universidades. Qual a participação desses contingentes no esporte organizado? Ficamos com inveja dos Estados Unidos, onde isso tudo é exemplar. Aqui temos uma educação física obrigatória, mas não é levada muito a sério. Faltam espaços adequados (campos, quadras, piscinas), o número de professores é insuficiente e a mobilização para atividades esportivas muitas vezes é confundida com uma simples pelada.
Pode-se imaginar, se houvesse um planejamento estratégico para aproveitar esses recursos humanos, onde hoje poderíamos estar. Há um grande potencial irrevelado, como de repente se viu no futebol feminino e no handebol, onde tivemos atuações marcantes. Outro dado a considerar é o papel dos clubes esportivos em todo esse processo. Muitos deles são ociosos e, em geral, devedores relapsos de impostos aos governos. Por que não transformar isso em espaços para o treinamento de estudantes, com a existência de uma possível Bolsa Esporte? Assim, se poderia pensar objetivamente na universalização do atendimento esportivo.
Ainda falta uma referência aos patrocinadores. Entidades governamentais, como a Petrobras, o BB e a Caixa Econômica estão presentes no processo. Mas é preciso mobilizar também a iniciativa privada, como faz o Bradesco com grande intensidade. Só assim chegaremos aos atletas de alto rendimento. E choverão medalhas de ouro.
Queremos medalhas de ouro
Jornal do Commercio (RJ), 12/10/2012