Quando atendi ao telefonema do ministro Raul Jungmann esta semana, achei que era para ouvir reclamações, pois na última coluna eu tinha tocado na frustração dos cariocas com o “resultado medíocre” da intervenção federal em apoio à segurança no Rio, uma iniciativa que despertara tanta esperança. A começar pelo título — “Não disse a que veio” — era um artigo de duras críticas e cobranças, refletindo o mau-humor e a irritação das pessoas com quem eu conversara. Com impaciência, perguntava-se: onde está o Exército? Por que suas tropas há um mês não saem às ruas? Cadê a “assepsia” que o ministro prometeu?
Para surpresa minha, do outro lado da linha estava uma autoridade comportando-se, coisa rara, como um autêntico servidor público, com a consciência de que seu dever é dar satisfação não propriamente a um colunista, mas a seus leitores. Em vez de queixas, ele garantia que “vamos ficar até o fim”, “não deixaremos de cumprir nada”, “em breve vamos ter boas notícias”, entre outros planos e promessas de ação. O mais importante, porém, foi sua decisiva disposição de superar a crise que se manifestou nas recentes declarações desencontradas e até antagônicas dele, ministro, do secretário de Segurança e do governador. O primeiro passo seria reunir-se com Pezão, por quem disse nutrir grande simpatia. No momento em que surgem fantasmas do passado pregando o retrocesso, a volta ao obscurantismo, é animador ter no Ministério da Defesa (que não é mais “da Guerra”) alguém que prefere o bom combate contra a violência.
O encontro de fato ocorreu e, a julgar pelo que revelaram publicamente, foi em clima bem-humorado. Jungmann falando em “discutir a relação”, que é o que os casais fazem quando querem salvar um relacionamento em perigo. Pezão, por sua vez, afirmando: “quero agradecer muito ao ministro. Afinamos nossa viola”. Antes assim, porque a paz no Rio depende muito da harmonia entre os que têm por tarefa conjunta buscá-la e preservá-la.
Em tempo. Já tinha acabado de escrever este artigo quando soube de mais um capítulo da guerra na Rocinha, que de manhã levou não só o terror à comunidade, como o caos ao entorno no asfalto, repercutindo em toda a Zona Sul, com fechamento de túnel, interrupção de trânsito, mudança de itinerário de ônibus, pânico entre os moradores. À tarde, tropas do Exército finalmente entraram na favela sem reações. Agindo em conjunto, com apoio de carros blindados, a polícia e as Forças Armadas acabaram demonstrando nessa megaoperação que haviam de fato superado as divergências.