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Quarta palavra: sofrimento

 

Continuo aqui a série de sete palavras que considero relevantes para o momento atual, e pedi aos meus leitores que escrevessem sobre elas em meu blog.


Debbie: quando meu amado morreu em um acidente de carro, escrevi o seguinte: você me deu uma parte sua que eu sei que jamais poderia possuir. Você me deu a terra, e plantou a semente; deste seu gesto, eu renasci. Você, portanto, me deu parte de mim mesma.


Marie: para aceitar a palavra “sofrimento”, eu preciso substituí-la por “entendimento”. Peço a Deus que me faça compreender os meus momentos difíceis, porque só assim consigo acreditar que tudo nesta vida tem uma razão.


Sarah: sofrimento! É aquilo que sentimos quando perdemos alguém precioso para nós. Queremos gritar, mas o som não sai. Olhamos em volta, e nada nos alegra. Continuamos a rir, mas nunca mais poderemos dar gargalhadas.


Carmen Larissa: quando sofremos, caímos na armadilha da própria dor. Passamos a acreditar que merecemos isso, que Deus nos esqueceu. Nos sentimos solitários e confusos. Mas com o tempo as feridas cicatrizam, a vida continua, e de repente nossos olhos tornam a se abrir. O que vemos? Deus nos esperando, pacientemente.


Driss: meu pai era analfabeto, jamais foi a uma escola ou a uma mesquita. Trabalhava como pedreiro, e dizia que Deus estava em tudo, portanto por que sofrer? Uma vez eu perguntei por que não rezava. Me respondeu: eu procuro agradar ao Senhor todos os dias, não preciso disso. Sofri muito quando morreu, mas me deixou a lição mais importante de todas: viva a sua vida, deixe que os outros vivam as deles.


Siddartha Baral: quando você não fica pensando o tempo todo em si mesmo, e deixa o rio da vida fluir, não existe dor. Entretanto, quando começa a questionar cada coisa, passa a achar que nada faz sentido: isso é sofrimento.


Violet: hoje conversei com uma colega de trabalho que perdeu a mãe recentemente. Eu a tenho visto no escritório, procurando comportar-se como uma “pessoa normal”, enquanto os meus amigos procuram fingir que nada sabem do que se passou. Quis saber como ela se sentia, e respondeu: sozinha. Tem seus amigos, tem sua família, mas este tipo de sofrimento não pode ser dividido com ninguém.


Sarah: o único sentido da vida é lutar pelo destino escolhido. E isso nos leva a lugares tenebrosos, onde existe medo, e existe dor. Quando tenho que enfrentar estas dificuldades, quando estou muito assustada, procuro ficar sozinha. Tento me lembrar de cada momento no passado quando senti a mesma coisa. E isso me ajuda – porque sei que já vivi, e já sobrevivi.


Charlie: lutamos como desesperados, fazemos o melhor que podemos, às vezes confiantes, às vezes cegos pelo entusiasmo. E apesar de tudo, sofremos. Mas basta prestar atenção ao que está ao nosso lado, e uma simples palavra pode mudar por completo nosso estado de espírito. Responder a outras pessoas neste blog me fez entender melhor minhas próprias dores, porque somos todos iguais diante da tragédia.


Joumana: sempre procurei escapar do sofrimento, e por causa disso não vivi inteiramente minha vida. Depois de muitos anos, entendi que era inútil; a dor sempre me encontrava nos lugares onde eu estava escondida. Hoje em dia procuro viver mais intensamente, e quando ela chega, já sei que irá embora, portanto só me resta ter paciência.


Paulo Coelho: eu estava em uma feira de livros em Denver, Colorado, no ano de 1993. Telefonei para minha mãe, que sofria do Mal de Alzheimer. Conversamos um pouco, e eu disse algo que nem sempre costumava dizer: “te amo”. Três dias depois, em Toronto, soube pelo meu cunhado que ela havia falecido. Sofri, é claro. Mas fico contente em saber que as últimas palavras que lhe disse foram palavras de amor.


Revista O Globo (RJ) 2/9/2007